- porque dessa fruta eu chupo até o caroço! -

Tuesday, November 07, 2006

A Preta

O calor da boceta dela é o que me prende a essa porra. Só isso para aturar essas crises de ciúmes, essas cenas, barracos, gritos, acessos de raiva... mas deve ser o preço a se pagar. Fode demais essa preta! E no mais, mulher boa e gostosa assim é difícil de se conseguir por aí, né não?. Balão que é um fudido aturando as papagaiadas daquela boceta fedorenta... hahaha... nunca mais que como aquela mulher. Nem que me implore. E no mais, paro de deixar o grande Balão com essas coceiras chatas. È... eu sei, mas e daí? Ela que me procurou reclamando do cara que fode mau, tem pau pequeno, essas paradas. Mandei rola pra fazer a mulher gozar alguma vez na vida. Pelo menos alguma vez teria que acontecer com a coitada. E não me importo de presentear essas mau-comidas da vida não. Más? Más-comidas... não importa como se diz e também não me importo em comê-las. Ah, eu sei, mas uma boceta só não dá conta não. Ora, porra! Se tem tantas querendo um pau porque eu vou negar? Ué, aí eu corro atrás dela, prometo que mudo, digo que foi um momento, esses papos... claro que ela volta. Nunca que vai encontrar outro que a foda que nem eu. Fechamos bem na coisa. Ela curte meu pau e eu adoro a boceta dela. Mas ela não pôs cadeado aqui não, ó. Meto em quem eu quiser. Ora, porra! E eu com isso? Desde que não no nosso cafofo! Nunca levei mulher nenhuma pra lá, se quer saber. Sempre dou meus jeitos. Tanto que ela nunca soube de nada... desconfia, que não é boba, mas nunca soube. E também evito coisa muito perto, né, mas essa do Balão foi uma pequena falha no sistema. Hahaha. Falei que não tem segundo round. Só espero que ela fique na dela pra ninguém desconfiar. Nessas coisas tem que ser esperto... não deixar brechas. Fechar bem os cantos. Eu sou taxista, meu caro. Não há álibi melhor nessa vida pra se fazer putaria sem deixar pistas. Tenho minha cota diária de grana... normalmente no início da tarde, se eu sair de casa às seis da matina, já deu. Daí pra frente ou eu faço uma grana pruma puta ou procuro uma amiga... já, já, tem umas no gatilho que é só ligar. Já sabem como é tudo... é, mas tem dias que volto cedo pra casa pra dar uma moral pra preta. Hahahaha, claro que não! Mesmo se eu comer duas, três eu ainda chego em casa e meto demais com ela! Hahaha! Claro! Nunca brochei com essa mulher. Sério! Não to dizendo que nunca brochei na vida... não me interprete do teu modo. O que to falando é que com ela não. A parada é forte. Química, como dizem. Forte demais... eu já chego em casa de pau na mão. Ela que reclama muito... diz que só quero isso, que não a deixo em paz, essas babaquices... mas só fica falando até que eu meta a rola porque aí ela gosta. Gosta e goza! Hahahaha... Travestis?! Ora porra, claro! Demais... e não me considero viado! Nunca dei o cu nem chupei um pau... ainda. Hahahaha. Pois é, não sei o dia de amanhã, mas nunca fiz nada disso e te falo na boa, não tenho nem tesão... meu tesão é ver! Adoro comer aquelas menininhas de pau duro! Puts, fico doido! Mas nem toco, só digo que gosto de ver e realmente gosto. Rapaz, é porque é o seguinte... o tesão do homem é impossível de esconder. Ta lá, é natural e fica logo amostra... o da mulher não. Claro, claro... dá pra ver se você conhece a mulher porque nem todas reagem da mesma forma, então dá pra se ligar quando tu come a mulher todo dia, mas uma puta, por exemplo, a maioria fode contigo por grana, te pedindo pra gozar logo, vai, te chama de beizinho, grita ui ui, mas não tão sentindo porra nenhuma... tão pensando no outro doido de pau duro que ta lá embaixo pra ela fazer logo a grana. Com travesti é diferente... Aquilo é mulher! Ora porra claro que é! Só nasceu no corpo de homem, ué, mas é mulher... claro, claro, eu sei, modificou a porra toda, tem umas que estão piores que o Cauby, mas isso é de cada uma, eu digo que elas são mulheres, mas tem pau! Esse é o ponto. E um traveco não pode te mentir se sente ou não tesão porque ou o pau cresce ou não, que nem tu e eu. Claro que muitas não ficam de pau duro, às vezes acabaram de gozar com o doido que adora um pau no cu, mas a mulher não pode saber e vai lá dar pras bonecas, o que não é o meu caso. Minha excitação é saber que ela está excitada! Fico louco com isso, meto com o pau explodindo e só fica melhor quando ela goza também. Geralmente nessas eu acabo voltando porque me dão mais tesão, mas não muitas vezes nem logo depois que não quero criar vínculo nenhum, só gozar. Rapaz, tu não tem noção de quantos travestis existem nessa cidade! Só de pontos eu conheço uns seis diferentes em todos os lados da cidade. Demais. Já, já fodi madame e já fodi até casal por causa do táxi. Ah, meu caro, pra quem gosta de putaria a vida de taxista até que vale a pena. Claro, com a sua autonomia paga porque só assim pra conseguir dinheiro, se não tu vai ser escravo de algum filho-da-puta qualquer. Mas o papo da madame, claro! Essa história é boa. Foi o seguinte: peguei ela no aeroporto. Já entrou chorando. Uma coroa de vestido que me pareceu gostosa quando fez sinal, mas nem era tanto. Peitchola mole, boceta peluda. Não curto muito não. Mas isso só vi depois, claro. Então... ela entrou e só chorava... fiquei olhando pelo retrovisor e esperando. Ela só fez sinal com a mão como quem manda eu virar a cara e simplesmente andar e foi o que fiz. Dei uma volta por ali mesmo, devagar, sem pressa, depois fui lá pro outro lado sempre sem pressa deixando o taxímetro rodar e fui rodando. Sem pilha, acho que ficamos meia hora nessa. Teve hora que eu até esqueci da mulher. Olhei pra trás e tava ela lá com cara de paisagem, já sem chorar, vendo a rua, os barracos, sei lá... não tinha nada pra olhar por ali onde estávamos. È, talvez ela nem tivesse prestando atenção, viajando, né? Pois é, tava assim. Continuei na minha, mas acho que ela se ligou que eu me liguei nela e tentou puxar um assunto. Uma parada nada a ver. Algo como o que eu achava do tempo ou da seleção, sei lá, sei que não entendi nada e fiz a minha cara de paisagem. Ela suspirou e ficou na dela e eu na minha. Depois de mais um tempo foi que perguntei se ela já sabia para onde queria ir e ela disse que não. Continuei na minha. Segundos depois ela completou: “Eu não sou daqui. Nem tenho família aqui. Nem conheço ninguém nem nada aqui. Essa é a primeira vez que piso nessa cidade e, sinceramente, não sei o que vim fazer aqui.” Hahaha, eu quase dei um freadão que ia jogar ela de cara no banco, como nos filmes, saca? Hahaha, porra! Fiquei de cara! Como assim? Mas aí começamos a conversar. Tava bem mais calma. Não sei se tomou uma paradinha enquanto eu rodava a cidade e não percebi, mas sei que parecia outra pessoa. Aí foi que descobri todo o circo. Resumindo, a mulher chegou em casa e pegou o marido fodendo a prima. Hahaha, porra! A prima! E na própria casa! Essa caras são uns bundas mesmo... mas aí disse ela que foi isso. Ficou zureta, saiu de casa louca e foi dar no aeroporto. Disse que só chorava e pediu somente a passagem para o próximo vôo que não queria saber pra onde, só queria embarcar. Gente rica é uma porra, né? Eu, só andei de avião pra ir ver meu velho quando tava morrendo e ainda assim fiquei uns meses pagando aquela porra, agora a mulher vê o marido com a prima na cama box do casal, fica louca e pega um avião qualquer, assim, como quem entra num táxi num momento de desatino. Depois que fiquei pensando... e se o próximo vôo fosse pra Xangai? Hahahaha Ou Botswana, aquele país lá na Ásia! Hahahaha, que doida! Mas aí veio parar aqui e quando saiu do saguão esticou o bracinho pro primeiro táxi que passava e quem tava lá? Prazer, Paulo. Hahahaha, pois foi isso. Depois de quase uma hora rodando e conversando ela me chama pra sentar com ela e tomar uma cerveja. Perguntou se não tinha problema e, bem, não tinha, mas fiz um charminho, como se não pudesse, mas não demais porque eu me liguei que ela tava querendo rola. Tomou uma chifrada feia do marido e agora queria um revide ou só um carinho de um macho de verdade. E no mais, já eram umas 5 da tarde, o trânsito tava começando a engrossar e pum, aceitei e fomos prum shopping que tinha um barzinho reservado, desses de empresário, pouca gente, muita grana. Fomos lá. Ela me pagou adiantado e em dobro e subimos. No meio do papo ela veio com aquela pergunta cretina: “Você me acha muito feia?” Há, foi o sinal. Perdi todo o pudor e mandei na lata que não só a achava bonita e sensual como tinha desejado no momento que a vi dando sinal. Fiquei na minha porque tava chorando, poderia ser algo serio, enfim, fiz um filminho pra mim, falei o que ela queria ouvir e pum, pau dentro. A gente se deu uns pegas ali mesmo, mas foi rápido. Depois ela pagou a conta e fomos prum motel que ela pagou, claro. Rapaz, a coroa parecia numa seca antiga, ó... quase acabou comigo. Ficou doida quando viu o tamanho do meu pau e veio pra cima que nem uma louca! Me chupou, sentou, ficou de quatro, fez o caralho a quatro! Até o cu ela me deu! Não, dessa eu nem posso dizer que comi, ela me deu o cu quase que sem o meu consentimento... deu uma ajeitadinha e atolou tudo. Nem acreditei quando vi. A coroa tava na seca, rapaz. Quando tava pra gozar me batia pedindo pra bater nela, “na cara! com força!”, gritava. Eu não sou de bater em mulher não, não gosto e não é por babaquice de que em mulher não se bate, eu não gosto de bater, nem em homem, acho que só briguei três vezes na vida e foi quando moleque... depois nunca precisei e essas mulheres que gostam de sopapo eu encho é de pica. Dou uns tapas na bunda até ficar vermelha e pronto, mas essa coroa não deu, ela me batia se eu não batesse nela e quando fiquei puto, bati demais. Hahahaha. Acho que era o que ela queria, mas na hora fiquei até meio bolado, pensei que tinha acabado com a coroa, mas ela curtiu. Sem querer, rapaz, sem querer eu dei um tapão na cara que deixou uma marca de soco. Ela disse que tava ótimo. Vai ver queria exibir alguma marca pro marido, sei lá. Depois do banho pôs os óculos e pronto. Me pediu que a deixasse no aeroporto de novo e, mesmo sem ter ligado o taxímetro, me pagou a corrida. Em dobro! Nem sei se ela conseguiu voltar naquele dia, já era noitinha, tipo, nove horas. Também nem quis saber, só a deixei lá e voltei pra preta antes que ficasse difícil de explicar, mas esse dia até que foi mole. A grana que a coroa me deu justificou o papo, falei que trabalhei até mais tarde pra fazer a grana, pagar as contas e tudo mais. Não xiou muito não. Se eu voltar com grana ela fica na boa. Dei mais uma com ela pra lhe aquietar o facho e pum, fui dormir. Doidera, né? Mas acontece. Eita porra! Olhae a hora, me empolgo falando dessas histórias, tem jeito não, mas a gente se fala mais outra hora porque se não, sabe como é... a Preta...

Tuesday, September 26, 2006

Estavam numa ilha, aparentemente tropical, cercados de árvores em meio a uma clareira. Curtem as horas sem muita preocupação com nada. Ou quase. Ela brinca com alguns insetos, animais, plantas. Ele observa algo. Ela cantarola alguma cantiga e dança segurando em alguns galhos e se firmando nas pontas dos pés como que num balé, tendo toda a mata verde como parceira lhe segurando pelos bracinhos finos. Ele finge ver alguma coisa, mas na verdade vê a dança que finge não ver. A ama, não resta dúvidas. E ela a ele, incomensuravelmente. Mas são distintos. Dado alguns minutos, ela some pela mata, como que se tivesse entrado numa trilha. Alguns segundos e aparece do outro lado e dessa vez ele não vira, pois não a observava mesmo. Ela sorria. Ele, sério, mas não carrancudo ou taciturno, apenas sério. Cortava alguns raminhos e os guardava em saquinhos vazios e, aparentemente, limpos. As duas mochilas estão encostadas num canto. Chegaram a não muito.
- Nossa!! Isso sim é um lagarto. Olha, preto!
Ele espia, vira novamente quase por ignorar e como que por um estalo interrompe o movimento e retorna seus olhos para o enorme animal ali parado.
- Caralho!!! O que essa porra está fazendo aqui?!
Ela ri, maravilhada com o animal, enorme, lento, encouraçado.
- Puta merda, Bia! Essa porra é um dragão de Komodo! Quê que essa merda faz aqui, meu Deus?!?
- Não chega perto, Bia! Tu conhece esse bicho?
Ela ri mais abestalhada com os olhos fitos no animal a brilhar e repetindo baixinho para ele: “komodo, komodo, komodo”.
- Komodo... que nome bunitinhu!! Será que morde? Parece tão lento, tão gordo... quase um iguana! E ria alto.
- Não, ô doida! Essa porra não só morde como mata! Mas que merda! Essa porra só existe na ilha de Komodo, o quê que tá fazendo aqui!?!
- Porra não, amor. Ele é bonitinho, olha. Como um calanguinho! Quer dizer, um calangão! Risadas.
- Calangão... tu vai ver o calangão se ele te morder. Esse bicho é verdadeiramente perigoso. A gente tem que ligar pra direção do parque, avisar que tem isso por aqui. Capaz que altere o ecossistema, sei lá. Mas, puta merda, quem foi o cabeção que trouxe um dragão de Komodo pra cá?
- Ora, alguém que queria aumentar a biodiversidade brasileira. Risos.
- Vai é desestabilizar a porra toda! Caralho, Bia! Não chega perto assim desse bicho, que merda!
- Só uma dancinha pra recepcioná-lo, vai... deve estar com saudade da família, olha pra ele. Essa ilha fica longe? Ele tá meio triste.
- Tá com fome e quer comer você. Puta merda, Bia. Tu é boba mesmo, hein? Que merda... Sai daí, parece uma criança, que merda! Larga mão de ser doida!
- Ai, você é muito ranzinza! Vem dançar com a gente, vem! Ria.
- Antes ranzinza que imbecil. Esse bicho tem milhões, sei lá, bilhões de bactérias na saliva. Uma verdadeira bomba! Se te morde, fudeu! Daqui não temos muito o que fazer. Vai, anda, sai daí.
- Ahhh... só isso?! Você também tem milhões, talvez bilhões de bactérias na saliva, mas mesmo assim me beija, me lambe, me chupa... hmmm. Gargalhadas.
- Ei, Bia! Eu to falando sério! Deixa de babaquice! Esse bicho mata um boi com uma mordida, cara! Deixa de besteira. Olha só, ele tá de olho em você. Vou precisar ir até aí te arrancar de perto dele?! Que merda...
- Vem! Vem, bobo! Vem dançar com a gente, ó! E saiu rodopiando, cantarolando qualquer coisa. Tão feliz, tão plena, tão cheia. O dragão era sua última ameaça ali, era seu amigo, o animal selvagem que surgiu para abrilhantar o dia, para que contasse depois aos amigos, aos familiares “eu vi um dragão de Komodo! Vocês nem acreditam!”, mas o que no mundo dela era último, no universo compartilhado entre os três atores, era o primeiro. Ele, como que prevendo, se levantara, atento, vendo-a bailar, imóvel. Somente rompeu em correria quando a viu gritar e pular para trás. O dragão corria apressado para o outro lado. Estava feito a sua parte, agora era só esperar. Ela caiu numa pedra, mas não sentiu dor. Olhava pra perna, pra mordida, um pequeno filete de sangue escorrendo, o desenho da mordida.
- Puta que pariu, Bia! Caralho! Que merda! Porra! Caralho! Eu te falei, merda! Deixa eu ver isso... puta merda, Bia!
- Ai, bobo! Só uma mordidinha leve, já já passa...
- Como “já já passa”?! Tá louca?!?!? Isso vai te matar! Puta merda, temos que te levar prum hospital! Ai, meu Deus! O que tu foi me arrumar?, cacete! E a porra do barco só vem amanhã, é!?!? Caralho, Bia! Ca-ra-lhow! Não acredito nisso...
- Ai, bobo... eu que sou atacada e você aí quase chorando.
- Caralho, Bia, você não está prestando atenção no que está acontecendo!
- Claro que tô... o nosso convidado me deu uma mordidinha e agora tá ali, ó... me zoiando. Ei! Seu safado! Vou te dar palmadas, hein.
Ele parecia não ouvir. Ajoelhado, tentando pensar, com os olhos no chão, repetia baixo “não acredito nisso. Eu não acredito nisso.”
- A gente tem que fazer algo... vamos pra praia, acender uma fogueira e tentar que alguém passando nos veja. Você não vai agüentar até amanhã. Nós não temos álcool, nem antibióticos, nem nada! Que porra. Vem, Bia, vamos pra praia senão tu vai morrer, merda!
- Sério? Vixe...
Ele a pegou pelo braço e retornaram pela pequena trilha até chegarem na praia. Não passou pela cabeça de ambos que poderia existir outros dragões já que na ilha não havia qualquer habitação ou refúgio ou o que quer que pudesse justificar aquele animal como propriedade de alguém. No caminho da praia ele recolheu alguns galhos secos, folhagens secas, gravetos. Ela ajudou.
- Você iria comigo para qualquer lugar?
- Ora porra. Mas que pergunta é essa?!
- Só quero saber se você iria comigo para qualquer lugar, ué... é simples.
- Claro que sim, claro que sim! Ora...
- Mesmo pra morte?
(...)
- Você morreria comigo ou não?
- Ora, Bia, mas que pergunta! Deixa de besteira e me ajuda aqui.
- Ué... eu só queria uma resposta simples: sim ou não. Toma. Não quer responder?
- O quê, Bia?
- Se você morreria comigo... se me acompanharia mesmo até a morte.
- Sim, Bia. Iria... te acompanharia até a morte. Me dá os fósforos.
Ele armou grandes troncos e no meio folhagem pelo meio e os gravetos em cima. Riscou um fósforo, protegeu-o do vento e baixou para perto das folhas secas. Em pouco tempo a fogueira criptava. Levantou-se e bateu a areia do joelho quando sentiu o dedo dela em sua boca. Tinha gosto de sangue.
- Que porra é essa, Bia!?Tu... tu... ?
- Para ficarmos juntos, meu bem. Rindo. Como num pacto de sangue. Rindo. Se eu morrer, você morre junto. Se eu me salvar, nos salvamos. Estamos juntos, meu bem e isso é lindo!
- Caralho... caralho... eu não acredito! Cuspindo, batendo os dedos na língua em desespero. Que merda, Bia! Por quê tu fez isso!?!?!! Caralho! Eu não acredito!!
- Ai, você é tão trágico! Relaxa, vai. Logo aparece alguém e leva a gente.
- PORRA, GAROTA! VOCÊ NÃO ESTÁ VENDO QUE SE NINGUÉM APARECER A GENTE VAI MORRER!? MORREEEER! PORRA! TU ACHA ISSO ENGRAÇADO!!???!!
- Ué, continuaremos juntos... aqui ou lá. Apontando pra cima e rindo.
Talvez tenha sido aquela risada, ou o deboche com a situação, a despreocupação, a inconseqüência, ou tudo junto, não sei. O que sei é que algo naquele momento incendiou o peito e a alma dele. Não havia mais pensamento, somente raiva. Não havia mais razão, ele era constituído, dos dedos dos pés aos fios do cabelo, de emoção pura. Deixou de lado qualquer lembrança passada e passou a agir de acordo somente com o que conseguia enxergar e a única coisa que enxergava era ódio. Partiu para cima dela e lhe desferiu um soco na maçã do rosto tão forte e rápido que ainda a atingiu em meio a um sorriso. Ela caiu, estatelada na areia, o corpo quase todo debruçado na areia, virado pela pancada, mas não teve tempo de se espantar, pois ele não parou e assim que a viu no chão passou a chutá-la com fúria e toda força que conseguia reunir. Ela gritava. Ele não ouvia. E não fingia. Acertou-lhe nas costelas e um bem no rosto; foi esse que quebrou o nariz. Ela tentou se erguer, escapar, ele chutou-lhe o braço esquerdo e ela desabou. Ouviu-se um barulho de ossos quebrando entre mais gritos dela cada vez mais desesperados. Ele a pegou pelo cabelo e puxou sua cabeça pra trás. Gritava em seu ouvido: “POR QUÊ?! POR QUÊ!? SUA VADIA!!! SUA VADIAAAAAAAAHHHHHHHH!!!” e jogou sua cara na areia. Ela chorava, em desespero, em meio aos grãos. Ele se ergueu. Passos lentos. Arfava. Buscou um dos tocos da fogueira. Se perguntava porquê ela fizera aquilo... porquê? Queria morrer com ele?, pois bem, ele daria o seu desejo, mas ela morreria nas mãos dele. Na ponta da madeira a chama começava a queimá-la de jeito. Ele a olhou, deitada, suja de areia, sangue, baba, lágrimas, tentando se erguer com apenas um braço, o outro em posição impossível, rastejando. A noite começava a cair. Para ele, ali, era um caminho já sem volta... chorava. Chorava por sentir o frio da morte, do ato inconseqüente e irreversível, por não se reconhecer quando mais precisou de si. Chorava, mas nada podia voltar e com toda força desferiu o primeiro golpe na cabeça dela que voltou a afundar na areia. A brasa da ponta saltou, a chama quase se apagou, mas resistiu ainda até a quarta pancada quando enfim se apagou. Depois disso, a madeira ainda pouco queimada, agüentou firme e as pancadas produziam um som seco até que se formou uma massa de sangue, ossos, areia, miolos. Ele não contou, nem quis. Só parou e se deixou cair quando o braço não mais tinha força de erguer o toco para bater novamente. Caiu o grosso galho. Caiu ele. Nos seus olhos somente as primeiras estrelas da noite. No lusco-fusco, se viu sozinho, insano, assassino, e já condenado. Não percebia a fogueira queimando bestamente ao lado, o corpo ali estatelado com a cabeça afundada na areia. Apenas a massa vermelha na areia. Não via o dragão, de longe, ainda em meio à mata rasteira, o único a testemunhar os últimos minutos deles na ilha. O último a senti-los. Ele viu no céu, entre as estrelas no fundo azul, toda a sua vida perpassada desde momentos até então esquecidos até o último grito de dor que a ouviu proferir. Só não a viu tirar o sangue que pusera em seus lábios de outro arranhão no braço. Isso, os seus olhos afogados em lágrimas, imóveis, congelados, como se o corpo já se preparando para o fim iminente começasse a abrir mão deles, não viu.

Tuesday, April 11, 2006

Tosá,
nada como uma garota de Ipanema....
Se liga no fio dental frontal.
Uhuuuuuuuu!
Essa foi pra vc, gatinho!
Beijos da Divine.

Thursday, April 06, 2006


Domingo,Sobradão do Rock. Isso já faz um bom tempo. Divine tomava cachaça com Mirta, enquanto imaginavam como tornar aquela noite menos previsível. Muita disposição e nenhuma grana. No andar de cima, sujeitos mal encarados de mais para qualquer acharcação. De volta ao andar de baixo, o cenário era o mesmo. Sentadas na mesa, pouco assunto, observavam os seres daquele lugar... inferninho. Um punk entra empurrando um aleijado na cadeira de rodas. Não era preciso chegar perto pra sentir o cheiro de maconha que ele exalava. Instigação. Logo depois, o punk sai sozinho. Merda! Um casal brigando derruba cerveja em Mirta, o que as faz mudar de mesa. Agora estão perto da porta, onde se tornaram alvo fácil dos vendedores de tudo. Depois de discutirem por terem comido do amendoim que não tinham a menor intenção de comprar, veio o china. Ele segurava uma caixa com pequenos elefantes brilhantes. Divine demorou a perceber, mas aquele pequeno artefato era na verdade um batom. Vermelho-Paixão. Com embalagem em forma de elefante, com pisca-pisca.
- Desculpa moço, eu não uso batom. E também tô sem grana....
- O moço mandou de presente! Presente! Presente!
O china agora apontava para uma figura nas sombras, o sujeito da cadeira de rodas.
- Foi mal moço, mas eu não vou aceitar.
Após ser fuzilada pelo olhar de ódio do china, Divine viu que a tal cadeira se movimentava em sua direção.
- Não quero incomodar vocês, mas to esperando um amigo e vou ter que ficar aqui durante um tempo e.... não gosto de beber sozinho.
Era um coroa franzino, sem pernas. Cara marcada, sua vida com certeza não era fácil. Mirta logo se adiantou e seu bolso vazio disse que não havia problema. Levantou pra pegar copos e a cerveja que o novo amigo pagava.
- Desculpa ter oferecido o batom... eu vi que você não gostou. Eu não espero nada de você, mas eu queria te dar alguma coisa. Eu tava te olhando de longe.... achei você diferente... bonita. Não, não era pra você ficar sem graça!
Divine sorriu amarelo e tratou de beber logo aquela cerveja. Não se deu conta de como elas se mutiplicaram. Talvez porque o sujeito permanecesse quieto e não a constrangesse mais. Ela já sorria quando ele perguntou:
- Tem certeza que você não quer nada? Eu sei que você nunca teria nada comigo e além de tudo você é muito novinha.... mas te dar alguma coisa me deixaria feliz....
- Voce tem um beck?
Ele riu.
Lá dentro, onde algum dia houve um palco, Divine e Mirta se surpreenderam quando ele suspendeu o seu “cotoco” e puxou um tijolo de cerca de 2 kg de maconha. Logo, Divine se lembrou do cheiro intenso que havia sentido antes, mas que acreditou ter vindo do punk. Olhou o aleijado com outros olhos e achou que ele poderia ter escapado de um presídio... quem sabe ontem. Ele lhe estende um papel de caixa de sapato e dois grandes punhados de bagulho.
-Esse é pra você fumar depois e lembrar de mim. O outro, aperta agora.
Mesmo entretida desberlotando o que pareciam ser 15 gramas, Divine notou a entrada de alguns amigos, inclusive os dois rapazes com quem ela e Mirta então saíam. Eles se aproximaram, o que deixou Divine muito feliz. Já o aleijado parecia não estar contente com as dez cabeças que agora encabeçavam seu beck. Alguns minutos depois, ele chama Divine, visivelmente transtornado. É quando ela se dá conta: ele e sua cadeira já estavam de fora da roda. Travou o baseado e disse que se ela quisesse fumar, teria que ser com ele.
Divine não deu a menor importância... talvez tenha ficado quase assustada. Chapada, deu as costas, puxou seu namoradinho pela mão e foi embora.
Dois meses depois, vagava sozinha pela Joaquim Silva.... sexta feira. Ao descer da escadaria, tropeça em uma cadeira de rodas. Era ele. Pede para ela lhe fazer companhia, só aquela noite. Com os olhos injetados ele apertava o braço de Divine com força. Mas ela tinha uma grande vantagem. Retrocedeu e apertou o passo, sumindo na multidão. Olhou pra trás e ainda o viu vociferando, com os braços estendidos em sua direção.

Monday, March 27, 2006

Eu só queria Jantar....


O dia-a dia dos universitários é muito duro. Acordam cedo, têm aula o dia inteiro, gastam fortunas em xérox e vendem o almoço para comprar a janta. Era uma tarde de verão. A Universidade estava em aula em função da greve que acabara com todos os planos de viajar com os amigos e curtir uma praia... O que consolava era que sempre sobrava um tempinho para tomar aquela cervejinha gelada. Na época a Itaipava ainda custava R$ 1,00.... Era inacreditável. O que se podia fazer era aproveitar o final de tarde com os que passavam pelo mesmo problema, escravizados àquela situação. Mas tudo era alegria. Beco Três, o tradicional Araponga, este era o nome do bar mais freqüentado na época. Era lá, que os amigos passavam horas conversando, comemorando, lamentando, se embriagando. E depois de muitas cervejas, nada melhor que mais cervejas... Um dos amigos lança a idéia, mais que óbvia, de todos irem a um barzinho, num famoso bairro boêmio do Rio de Janeiro. Afinal, mudar de bar sempre ajuda a manter a bebedeira. O que eles não sabiam é que suas vidas ficariam marcadas para sempre...
Chegando ao tal bar, continuaram com a cervejinha, agora num lugar mais reservado, e resolveram pedir alguns petiscos. Nada mal. Queijinho minas em cubinhos, aipim frito, mais cerveja. Alguns optaram pelo e bom velho PF (“velho” por conta da aparência). Mas, às vezes, após um porre, a comida cai bem. Feijão, bife, farofa.... até que é legal. Continuaram no papo...
Por volta das 22 horas ouviram alguns gritos. Olharam envolta, mas o bar estava vazio, o barulho só poderia vir da rua. Um certo nervosismo tomou conta do grupo... Afinal, que gritos eram aqueles? De repente três prostitutas invadiram o bar, aos tapas e ofendendo umas as outras dos piores e talvez mais inusitados palavrões. Mas os jovens não se enganaram. Aquelas prostitutas eram travestis. Obviamente isso mudara toda a situação. Agora eram três homens brigando pelo ponto de prostituição... Nada bom...Nada bom.... Os travestis invadiram o bar, gritando, brigando, ameaçando... Pobres jovens, presenciando a triste realidade das ruas. Perdendo um pouco da inocência de forma tão deprimente. O que levaria três homens a se comportarem desta forma? Ninguém sabe dizer. Talvez o grande desafio da sobrevivência...
Com apenas um golpe o maior deles arrancou todo o vestidinho preto de lycra, que até então não cobria metade da vergonha que todos passavam naquele momento... O travesti, que sofrera a agressão de dois rivais, agora nú, chorava copiosamente. Cena triste, muito triste. Mais tristes ainda estavam os jovens estudantes que presenciando aquilo resolveram tomar o rumo de suas casas. Pouco se comentou a respeito. O constrangimento era geral. Ver travestis se degladiando sem roupa, representava toda a decadência do ser humano. Muito se viu muito se aprendeu... Mas pra falar a verdade, eu só queria jantar...

Xana /06

Sunday, March 26, 2006

Embaixo da minha janela tem um velho posto falido que foi transformado em um novo estacionamento. O posto em si é o tal do novo estacionamento onde os moradores guardam seus carros e o que resta aqui embaixo de minha janela é o velho estacionamento, um corredor espremido entre o meu prédio e as casas da rua ao lado, onde o posto faz esquina. Era aqui neste corredor que funcionava o antigo estacionamento. Época em que as bombas ainda funcionavam para injetar álcool, gasolina e diesel adulterados nos automóveis que achavam tirar vantagem com os preços baixos. Hoje, o que fica aqui no fundo são os dois caminhões da empresa que funciona em frente ao posto. Não há luz. A distância para o fim do corredor, onde param os caminhões, e o posto, onde estão os carros e uma gorda histérica que vive gritando com o velho que até certo dia me parecia o real responsável pelo espaço, mas que agora já me põe dúvidas, fica em torno de trinta, quarenta metros e minha janela está nos dez finais, no que eu classifiquei de “zona de ação”. Daqui é difícil enxergar o que acontece lá no posto até porque há um outro prédio na minha frente, também ao lado do corredor, que me cobre noventa porcento, ou mais, da visão e que me limita a apreciar as movimentações dadas nessa zona escura, sem saída e perfeita para fuder. Passei a perceber isso enquanto fumava um para ir trabalhar e percebia ali embaixo dezenas – dezenas!! – de pacotes abertos de caminhas e algumas jogadas, sem nós, pelos cantos. Sempre achei um tanto quanto bizarro, pois creio que não há, nessa vizinhança, tantas pessoas interessadas em fuder num bequinho escuro. Sim, voltando pela madrugada eu já vi um ou outro casal esquentado se pegando e metendo sem medo em algumas ruas do bairro, mas sempre julguei ser aquele ímpeto de um casal isolado, muitas vezes na rua da própria casa, dele ou dela, e que se julgavam protegidos pelo silêncio da madrugada. Mas aqui? Ter se tornado um ponto para fuder realmente me parecia um tanto estranho. Exceto aos sábados. Nesses dias, depois das dez da noite, há baile no morro aqui atrás. O som só para às cinco, seis da manhã e bem antes disso toda a galera, animadíssima, já vai descendo para pegar seus ônibus, kombis e carteiras que ainda possam estar nas mãos de seus donos desavisados. Fuder aqui no corredor não seria problema algum, até porque muitos já devem descer gozados e outras, grávidas. Mas se o ônibus demora, “vamos ali... rápidinho... coé mina! Pára de caô! Vamos lá, vamos!” e fodem. Não é difícil imaginar.
Passei a observar melhor a frequência do aparecimento dessas camisinhas. Era todo dia... dezenas. Se somente o movimento do baile gerasse tantas camisinhas durante toda a semana eu deveria acreditar que uma verdadeira suruba acontecia aqui embaixo toda madrugada de sábado para domingo e só eu não sabia. Passei a observar isso também.
Logo no primeiro sábado percebi que minhas desconfianças passavam longe do que de fato acontecia ali. Não eram casais furtivos do baile que corriam para cá em busca de tranquilidade para meter, coisa que eles devem ter de sobra pelo morro, mas carros. Todos furtivos, em silêncio máximo, farol baixo. Do primeiro carro que para e observo me sai um cara, taxista, e do outro lado uma mulher, maior que ele. Vão para trás dos caminhões. Algum barulho, percebo que tentam ficar em silêncio o máximo possível e logo depois regressam. O cara surge fechando a calça com a camisa presa no queixo e logo depois surge ela, maior que ele, rebolando como só os travestis sabem rebolar. Compreendi a coisa. Taxistas e travestis. A combinação que enche este chão de camisinhas com a porra de um dos dois. Ou talvez dos dois. Nesta mesma noite eu vi mais de cinco taxis pararem e cumprirem o mesmo ritual. Alguns nem se davam ao trabalho de sair, ficando somente naquele movimento lento e ritmado do carro até parar, algum lado abrir a porta e despejar o lixo formado e em seguida sair o carro, de ré, fazendo aquele barulhinho fino do motor que indica um carro dando pra trás. Sugestivo. Não, não. Jamais consegui ver uma foda de fato porque a escuridão realmente é densa e somente se dissipa com a chegada ou saída de um carro. Permanecendo, estes, apagados, tudo volta ao breu. Mas também percebi que não só travestis eram as responsáveis pelo movimento, como também putas mulheres, todas provenientes de um conhecido ponto não longe daqui. Clientela barata, sem dinheiro, afim de uma foda rápida por nada mais que vinte reais sem o motel. Precisa ser na rua. Mas lá, no ponto, já está manjando e os pê-êmes acharcam sem dó. Afinal, pegar um cara de calça arriada comendo uma puta feia ou o cú de um travesti ou mesmo dando, é prato cheio. Dinheiro fácil, rápido, sem muita discussão. E, talvez, dependendo do humor deles, um tapa na cara para aliviar. Mas rápido mesmo deve ter corrido a notícia desse tal corredor. Em pouco tempo a coisa bombava de criar até mesmo congestionamento. Teve dia que um Celta parou, apagou suas luzes e ali ficou. Eu, daqui, fumando um e olhando a movimentação, esperava que saíssem do carro. Era uma mulher. Consegui ver pelo breve momento em que a luz interna do carro ficou acesa. Talvez para que ele pagasse e ela buscasse uma camisinha. Quando terminaram, o cara saiu e deu uma mijada na roda traseira do carro. A porta ficou aberta, o que manteve a luz interna acesa. Confirmei que era mulher que agora se ajeitava no banco e limpava a boca com um tasco de papel higiênico que ela arrancou da bolsa. Ele voltou, comentou algo e fechou a porta. Acenderam as luzes e começou o fino ruído do motor em marcha ré, mas antes que eles sumissem de minha visão para dentro do posto e depois, rua, um caminhão surgiu e bloqueou a passagem. A princípio foi um impasse de ambos, mas rapidamente o Celta se adiantou e jogou para um canto do corredor, dando passagem para que o caminhão, que não era nenhum dos dois da empresa, se aconchegasse aqui pelo fim. O caminhão não foi. Continuou parado, talvez julgando que mesmo no cantinho, o Celta não lhe dava tanto espaço assim já que um outro carro estava parado (esse parecia estacionado e vazio) e bloqueava muitos espaços de manobras. Talvez o motorista do Celta não tivesse julgado não tratar-se de um pequeno carro como o seu, que sim, passaria tranquilamente para o fim e ali fuderiam sem grilos. Mas vendo que nada acontecia o Celta voltou à ré e ao fino barulho, agora pedindo espaço para seguir, mas o caminhão permaneceu parado com seus faróis iluminando todo o interior do carro, o corredor e os caminhões no fim. Eu diria que se fosse um filme hollywoodiano, do tal caminhão saltaria um serial killer de putas e seus clientes que caminharia em direção ao Celta com uma enorme faca curva na mão permitindo que a puta e o motorista do Celta, de lá, avistassem apenas uma silhueta entre o forte faról se dirigindo para eles. Seria demasiadamente clichê, mas para mim, enquanto espectador real, poderia gerar um pouco mais de adrenalina. Mas enfim, nada disso aconteceu e depois de muitas manobrinhas e até mesmo uma reclamação mais acintosa por parte da mulher que chegou a sair do carro e gritar com o cara do caminhão, provavelmente puta por estar perdendo tempo e dinheiro atravancada ali, as coisas se encaixaram e o Celta sumiu enquanto o caminhão tomava a vez. Não sairam assassinos com facas curvas e capuz na cabeça, apenas dois trabalhadores do, agora eu podia ver, caminhão-guincho e mais uma puta. Mulher, ao que me parecia daqui. Primeiro o motorista a acompanhou até detrás dos permanentes caminhões enquanto o ajudante fazia guarda. Não demora e volta o primeiro dando caminho ao ajudante que vai, meio titubeante, mas afim. O motorista acende um cigarro de regozijo e espera pelo companheiro. Faz brincadeiras nesse meio tempo “vou voltar aí, hein! Se num guenta, deixa comigo!” e ria... gargalhava. Logo depois volta o cara, agora com a puta que também brinca. Parece que já conhece o motorista. O ajudante se mostra meio tímido e depois que os três acendem seus cigarros, montam na boléia e saem fora. Entendi como é o ritmo da coisa e as tais camisinhas já não mais me despertavam tanta curiosidade. Na verdade, na segunda noite a coisa já era maçante porque além de não conseguir ver nada, as fodas não duravam mais do que cinco minutos... na melhor das hipóteses, dez. Um verdadeiro fast-food do amor. O fator que deu um interesse a mais nas observações se deu quando percebi que não só as putas, travestis e taxistas descobriram o local, mas também os pê-êmes.
Pela rua, passei a observar o posto sempre que chegava ou saia de casa. Realmente, é um breu absurdo e lá da rua, lá da frente do posto, nada se vê do que acontece aqui atrás. Seguro, do ponto de vista da exposição. Porém à mercê deles já que não há para onde fugir. Nem na idéia. Afinal, que explicação convincente um taxista pode dar à polícia quando pego num corredor escuro e sem saída na companhia de um travesti? E ainda com a calça na mão? E se a camisinha estiver no pau do travesti? Dinheiro fácil. Mas o engraçado nisso é a forma como eles chegam. Lá da rua, na reta que vai dar aqui no corredor, eles já apontam o carro, acendem o farol no máximo e aceleram chegando já de bicho. Saem com fuzis na mão e gritando ordens como se ali tivesse uma quadrilha de perigosos assassinos. Às vezes pega o cara ainda no carro, nos preparativos, talvez encapando o pau que brocha de imediato, claro, mas em outras, quando chegam, encontram apenas o carro vazio e precisam esperar o casal sair de trás dos caminhões. O cara olhando pro chão, envergonhado. A puta logo atrás num misto de “não tenho nada com isso” e “resolve logo essa porra”, fica em silêncio, num canto. Não há muito o que negociar, nessas situações o moral do cara está em frangalhos, no chão, reduzido a pó e o pê-ême, que na maioria das vezes trata essa situação com deboche e escárnio, aproveita e retira o preço que vale o fim daquela humilhação. E geralmente é tudo o que há na carteira. “Atentado violento ao pudor” porra nenhuma. No final da madrugada esses mesmos pê-êmes comem os mesmos travestis num local seguro e sem grilos e não me admiraria existir aí um conchavo entre ambos. Mas ali é hora de conseguir dinheiro. Talvez um pó, se alguém tiver. Eles pegam o que é deles por direito e saem. Deixam ali apenas o silêncio e a vergonha. O motorista e a puta entram no carro sem qualquer palavra e saem, com o fino barulhinho do motor em marcha ré.
Episódio ímpar se deu no dia que ouvi um pequeno murmúrio vindo do corredor. Como sempre, em silêncio, espiei. Deitado sobre o caput de um carro estava um negro, somente de bermuda e sem chinelo. Conversava com uma mulher sem um pingo de preocupação. Parecia estar num ótimo lugar onde podiam avistar a cidade e namorar, como nos filmes americanos. Realmente não pareciam tratar-se de cliente e puta, não daquela forma costumeira, mas mesmo assim, receberam o bote da lei. Embicaram lá da rua, acenderam os faróis e aceleraram, de bicho! A menina, com toda a luz na cara, se encolheu num canto, envergonhada com a exposição enquanto o negro – que agora eu percebia que usava short e não bermuda – levantava com o mesmo desprezo à preocupação que já se mantinha. O motorista do carro do Estado chegou a abrir a porta e pôr meio corpo pra fora, no sapato, desconfiado, não entendendo porque não se assustaram com sua chegada. O negro, com a mão no rosto, incomodado com toda aquela claridade, tenta ver quem chega e o motorista, já tendo reconhecido e, aparentemente, se arrependido, recolhe seu corpo e some para dentro do carro novamente. Creio que comenta algo com o companheiro e ali ficam, aguardando. O negro caminha em passos lentos, arrastando os pés, como se quisesse numa dessas passadas, enfiar de vez o pé no chinelo que parece lhe escapar a cada passo. A única frase que entendo da conversa que se segue é “boa noite, cabo!”, dita pelo preto. Ele se apóia na janela e põe a cabeça e o corpo para dentro da viatura oficial. Conversam por um par de minutos e logo ele retira o corpo, dá um tapa no braço do motorista e diz algo como “falô, mermão!”. Eu, que não conheço pê-êmes e não tenho conchavos, me retiro da janela e entendo aquele “falô, mermão!” como sendo para mim também. Afinal, só querem namorar em paz.
Depois de um tempo essa abordagem se tornou tão rotineira, acontecendo duas, três vezes numa mesma noite, que o movimento caiu drasticamente. As camisinhas diminuíram e mesmo à noite cheguei a ver a tal gorda gritando para um carro que acabara de entrar “A POLÍCIA VAI CHEGAR!!! TO AVISANDO!! FICA AÍ NÃO!! EI!!! OW!!! É MELHOR SAIR!!” E saiam. Não sei se agradecidos.
Esqueci do ponto e das observações e só num outro dia, me preparando para ir trabalhar, trepado na janela com meu béqui na mão, observei mais algumas dezenas de camisinhas – muitas sem nó – jogadas pelo chão. A coisa parece ter retomado o ritmo. Aqui, por essas bandas, tudo é sazonal desde a putaria ao acharque da polícia. Não dúvido que em alguns dias eu estarei vendo-os novamente protagonizando cenas de comédia pastelão. Pena eu não possuir uma câmera para filmagens noturnas. Produziria uma boa película, um documentário talvez, e aí eu seria aclamado como um grande diretor, desses que apresentam a verdade nua e crua e aí exibiriam meu filme no Fantástico, como d. Vitória... Pena.

Friday, March 24, 2006

Desacompanhada da Sorte...


As noites de verão sempre são muito agradáveis, principalmente pros que amam a natureza e estão em ótima companhia. Mas para Xana, sorte era um substantivo um tanto obtuso... Sempre havia um mistério por detrás de um ótimo dia ou de uma virada do destino. Era noite de Sexta-Feira, na cidade do Rio de Janeiro, calor escaldante. Acompanhada de seu namorado, Xana tem uma ótima idéia: caminhar pela praia... Romântico não é? Não, não é... Xana foi bem à vontade. Camiseta, saia e chinelo. Carregava uma mochila com poucas coisas, celular, carteira... O namorado de Xana estava ansioso, pois não se viam há algum tempo... Coitado, antes tivesse ficado em casa. Xana caminhava tranqüilamente em direção à praia, quando o inusitado ocorreu: tomou uma baita cagada de pombo na cabeça. Mas isso não a fez esmorecer. Limpou aquela sujeira e seguiu para o passeio. Chegando à praia, a noite estava maravilhosa. Comprou um a cervejinha pra acompanhar. Uma, duas, três... Realmente muito agradável... Xana, de repente sentiu uma grande vontade de urinar... Olhou para um lado, olhou para o outro e não avistou sequer um banheiro. Mas tudo bem. Isso jamais intimidou nossa heroína. Xana encaminhou-se até uma árvore, em meio à penumbra, e escolheu o lugar ideal para resolver seu problema. O que Xana não esperava era pisar em um monte de bosta de mendigo (fresquinha). Aquele creme entrou entre os dedos do pé de Xana, fazendo-a entrar em profundo desespero. Sua sorte era a proximidade do mar. Ela saiu correndo, detrás das árvores, com um choro sentido e, lamentando o ocorrido, começou a lavar seus pés. Xana estava realmente abalada. Chorava muito. Afinal o que teria feito de errado para merecer aquilo. Xana, desesperada, se agachou de frente pro mar, na tentativa de acalmar-se. O destino lhe pregou outra peça. Uma grande onda veio em direção de Xana, levando sua mochila com todas as suas coisas para dentro d’água. Xana perdeu tudo que tinha. Desesperada e arrasada, pediu para o namorado (que a esta altura já achava melhor se afastar da moça) que a levasse para casa. Xana estava aos pedaços. Teve um prejuízo de R$ 400,00. Quando achava que tudo havia acabado, na esquina de sua casa, uma grande barata voadora bateu em seu rosto, grudando em seu cabelo, levando-a ao total estado de histeria. Xana refletiu sobre seu dia. Resolveu que o lar era o lugar mais seguro para uma menina desacompanhada da sorte.

Thursday, March 23, 2006

Wednesday, March 22, 2006

Bom, e pq não começarmos por ontem?
Divine acordou e precisava da certeza de que naquela terça não colocaria álcool pra dentro.
Já havia concluído metade do seu percurso: aula de manhã, trabalho à tarde... restava a aula à noite, naquele lugar maldito!!!!!!!
Quase. Pq Divine chegou a tempo de ser convidada por Tosá, Gabizona e Pedrito de La Rocha para beber uma inocente cerveja no bar das putas.... (se é que isso é possível!).Afinal de contas eram 17 horas e ainda faltava mais uma para o suposto início da aula.
Era claro que desde o começo Divine receava ser sugada pela comodidade que lhe inspirava aquela viela suja... e pela cerveja a um 1, 75.
Pois bem . Não houve aula para ela.
Já eram dez horas quando, em estado de semi embriaguez e completa chapação, Divine e Pedrito se encaminharam para o onibus que supostamente a levaria pra casa.
Ah! Haviam as sacolas.Sim, Divine, auxiliada por seu amiguinho, carregava pesadas sacolas de livros envenenados.
Ao saltarem do busão, Pedrito faz o sedutor convite : Saidera?
Sentados na esquina de casa, boteco tosco, sacolas de livros envenenados e bolsa na cadeira ao lado. Conversa, muita conversa. Boca de Pedrito na boca de Divine.Muitas vezes.
Hummm....
Fugazmente, o caro sr. Sylvio os surpreende. Os sacaneia. E vai embora.
Em dado momento, um lapso de consciência a faz lembrar que o dia seguinte será uma longa jornada. Que horas seriam? Busca pelo celular, mas..... Não há bolsa.
NÃO HÁ BOLSA? Desde quando?????
Nem bolsa, nem celular, nem disc-man, nem cd's, nem documentos, nem as chaves de casa, nem os 20 reais com os quais ela finalmente não mais exploraria Pedrito, sem as caras canetas para desenho... e o pior: sem o sacro-santo caderno com mais de 6 meses de profundos estudos, anotações de aulas, poesias toscas e o trabalho pra entregar na sexta. Apenas pesadas sacolas de livros envenenados. FUCK!
Era necessário mais uma saidera. Até as 3 da manhã. Sorry, Pedrito.
Divine. Eu me odeio!
22 de março de 2006