- porque dessa fruta eu chupo até o caroço! -

Monday, November 19, 2007

Estupro.

Todo dia quando ele chegava ao trabalho, ela, por fetiche ou sei lá o quê, punha-se a observar o andar meio rebolado daquele cidadão estranho. O cabelo dele, escorrido com um gel meia pataca e repartido para o lado esquerdo, combinava com o imenso e grosso óculos que além da quase cegueira, era denotativo do profundo mau gosto desta personagem. Sua camisa azul motorista, à moda antiga abotoada até o pescoço, seguida de uma esdrúxula e puída gravata borboleta vermelha, nada tinha que ver com os seus sapatos marrons afilados e chamativos; por fim, para nos bastarmos de deleite com a estranhice alheia: o seu suspensório vinho prendia à sua calça social azul marinho à altura do umbigo.

Portanto é para surpresa e espanto de todos que justo ela fosse criar qualquer tipo de fetiche ou desejo em figura tão desairosa. Esta bela mulher dos seus cabelos cacheados, e olhar de um profundo cor de mel, uma linda boca carnuda, de corpo torneado e esbeltos braços, de sua morenice advinda do costume de banhar-se ao sol, da justeza de suas roupas decotadas e da altivez do seu andar, sapiente de que encanta. Do desenho de sua bunda e pernas simétricas, talhadas pelo samba que melhor escultor não há, da sua presença e magnitude de espírito, do seu desenrolo em assuntos tão caros às mulheres, em sua forma direta e desenfreada de lidar com os homens. Era tão onipresente que por vezes até aos homens mais sórdidos punha medo. Pois no trabalho, como em qualquer outro ambiente social que freqüentasse, era uma mulher extremamente desejada.

Já ele trabalhava ali há 20 anos, não houve, desde então, qualquer notícia que diz respeito pela afeição dele pelo sexo, nunca foi visto com mulheres, nem de dizer sobre elas. Quando era convidado a alguma festa sempre se esquivava, mesmo nas comemorações de final de ano do trabalho era o primeiro a sair, logo após o brinde inicial. Era um anti-social de fato, conquanto não fosse um chato. Sua inclinação a labuta e sua subserviência faziam-no um trabalhador que todo o patrão gostaria de ter, mesmo que este patrão fosse o burocrático e tolerante estado. Já ela era “nova” na repartição, parecia ter vindo de transferência de outro lugar. Fazia parte do seu mistério não falar muito do seu passado. Embora fosse uma bela mulher, não pairava qualquer dúvida no que diz respeito as capacidades intelectivas e racionais desta senhora, como é praxe dentre nós, os machistas. A sua impulsividade atrelava-se a uma competência fora do comum, o que fez com que ela alcançasse rapidamente o cargo de chefia.

Com isto tudo que vos digo, assoma-se agora um comentário geral e maldoso de toda a repartição a respeito dos dois: ele era um “homem afeminado”, ela era uma “mulher quase homem”. Assim sendo, o senso comum - sempre preconceituoso - daquela repartição só poderia crer que o olhar e a observância daquela àquele era ou por desdém ou compaixão, nada mais. O que eles não sabiam, até mesmo porque não havia nenhum narrador para lhes contar, era que: o quê encantava aquela não era exatamente o tipo de homem que era ele, mas um detalhe em especial: a imensao protuberância que jazia sob sua calça. Sim! Pois nós, homens destreinados, e mulheres menos perspicazes tampouco fariam sorte de olhar para este “pequeno” detalhe, quando mais o detalhe compusesse figura tão híbrida e bizarra. Mas ela, com um tino animalesco pela sobrevivência hiper – desenvolvido, notou. Não só notou como naquela sexta-feira de lua cheia, propositalmente, dispensou a todos do expediente mais cedo, enquanto cobrava dele uma solução para um problema insolúvel, pormenores de serviço público. Quando o ultimo foi embora, pouco antes das 18:00hs, ela, após certificar-se de tudo, chamou-o, irritadiça e leve, a sua sala.

- o sr, por favor, queira se dirigir à minha sala - falou, num tom imperativo e doce.

Como de hábito, ele somente levantou os olhos e já ia cumprindo a ordem e,ao por-se de pé, percebeu que a saia de sua chefe parecia estranhamente curta, fazendo aparecer a polpa de sua bunda carnuda como também a renda no fim da meia calça preta que usava sob aquele pequenino conjunto vermelho. Mas, obviamente, não fez caso a questão. Até porque estranhamente seu coração palpitava mais rápido o que o normal: o que será isso? Pensou. Ela deixou-o entrar e ordenou que se sentasse na cadeira larga, enquanto fechava a porta e passava o trinco. Parecia mesmo que se tratava de um assunto sério, pois além da rápida palpitação, um estranho suadouro ebulia em sua fronte, neste momento. Ao olhar sua chefe percebeu que a sensação de calor era mútua, pois que ela agora desabotoava o seu conjunto e se despia. Mas começou a ficar confuso quando ela chegou-lhe bem pertinho e começou a respirar-lhe a nuca: se está com tanto calor, porque não se afasta? Era o raciocínio que ia tendo, quando foi agarrado pelo cabelo com força e num golpe teve sua boca posta por debaixo da saia da chefe cuja calcinha era posta para o lado num mesmo movimento com o corpo que pôs a saia para cima, enquanto procurava com o seu clitóris pelo lábio dele. Ela já sabia que tudo teria que fazer, por isso manejava com sabedoria e jeito a cabeça de seu subordinado, a tentativa dele de falar: o que estava acontecendo? se ela estava louca?, o que era aquilo? que acinte meu deus! eu exijo respei...to e coisas do gênero, ao invés de fazê-la parar, só dava - lha mais prazer dado o volume, intensidade e tom distinto de cada uma dessas frases. Assim, atingiu o seu primeiro orgasmo em pouco tempo. Já ele estava atônito e assim continuou quando ela, num gesto, escorregou com a língua pelo seu corpo enquanto desabotoava com maestria e rapidez toda sua camisa, deteve-se mais tempo na nuca dele e teve uma grata percepção: aquele ser estranho era extremamente asséptico. Enquanto lhe dava mordiscadelas na nuca e roçava o seu pescoço no barbeado diário do digno, que num gesto amacia e no contrário arranha, sentia erigir todos os seus pelos em arrepios intermitentes que lhe deixava com mais tesão e lhe endurecia os seios. Foi a eles quem recorreu logo após de se livrar do zípper e por a sua cueca de lado. Foi, na verdade, um subterfúgio para manter a aparência de comando, muito necessário para a obediência dos subordinados, porquanto na hora que fora retirar o pau dele da cueca não conseguiu fazê-lo com uma mão só, era deveras colossal. Foi, então, com as mãos e a boca diretamente para a cabeça do seu piru e em movimentos suaves e giratórios - que alternava com delicadeza a língua com os lábios e dedos úmidos - foi criando o espetáculo da paudurescência. A impossibilidade de pô-lo inteiro na boca, não só pelo comprimento, mas também pela grossura, foram compensados pelos movimentos ordenados de suas mãos, língua e boca que sugava todo o pequeno detalhe com tesão daquela zona erógena: desde o umbigo até os anus, passando pela virilha: arranhões, mordidas, chupadas, lambidas, cusparadas, batidas, novas chupadas, até o gogó, babada, punhetada, põe a camisinha na boca e num movimento único veste-lhe; o mundo entrava em erupção pra ele. Pois, quando sentia o seu corpo inteiro endurecer, todos os membros, mãos, braços, esfíncteres e pálpebras, ela parou. Levantou e suavemente introduziu aquele imenso e grosso pênis em sua vagina úmida e quente, latejante, sedenta, louca por ser penetrada, sentir um pau daquele entrando e indo ao fundo, dando –lhes pancadas uterinas e mesclando suavidade com rapidez, era tudo que desejava, mas por ora só introduziu a “cabecinha”. Ali se divertia, ali se comprazia ao ver a cara de espanto orgástico que tinha seu funcionário diante dela, ali em cima e rebolante da cabecinha, com seus dedos úmidos lhe tocando os seios duros, com as outra mão a segurar a crina de seu cavalo, ela cavalgava: só na cabecinha. Aos poucos, o molhado de sua buceta e o peso de seu corpo ia introduzindo mais e mais aquela pemba gigante em sua xoxota, tocando em diversos pontos sensíveis, enquanto ela o xingava e gritava feito louca, fazendo mover seu clitóris de forma espamódica e prazeroza, atingindo sue ponto G, que já a esta hora estava de um tamanho que poderia ser facilmente notado, assim teve o segundo orgasmo e o terceiro, num crescente que fazia ela se mover cada vez mais rápido e descontrolada, suas virilhas estavam encharcadas de tanto gozo e prazer, e no momento exato que ia chegando ao seu quarto orgasmo percebeu em seu mandado um leve tremor, seguido de um sorriso escapado de canto de rosto. Ao perceber que ele tinha gozado, ela se acalmou. Foi o bastante para ele recobrara o juízo vestir suas roupas e sem palavra alguma sair pela porta o mais rápido que pôde, ademais a tremedeira.

É bastante óbvio que o constrangimento de nossa personagem logo se transformou em raiva, ele jurava que iria se vingar, denunciá-la a justiça, desonrar-lhe a moral diante dos seus pares, mas depois de muito ponderar percebeu o quanto inverossímil era esta história, o quanto era denegrir a si próprio publicizá-la e a coisa que ele menos desejava, rapaz regrado e metódico, era denegrir a si próprio. De sorte que não lhe restou muito o que fazer com este episódio: ou ele o esquecia por completo (o que, convenhamos, há de ser impossível), ou ele escrevia um pequeno conto de três breves páginas, ou ele a relatava para algum escrevinhador inapto ter o trabalho de fazê-lo. Mas como sempre foi um homem sem ação e discreto, parece-me que não tomou resolução alguma.

Wednesday, November 14, 2007


Marlene, a puta vampira
(antes, ver Casablanca)

Em noites de lua cheia,
Marlene, tão bonita, se vestia
que ninguém entendia
porque se esgueirava
em ruas estreitas,
em becos e marquises.

Corria, na época,
história sem pé nem cabeça,
de que Marlene chupava homens
e usava seus sangues
para saciar a fome.

O que de Merlene sempre ouvi
era que seus beijos queimavam;
o que sempre percebi,
nos bares e esquinas,
eram vastos comentários sobre
sua técnica de amar:
loucas posições e
boca tentacular.

Cinco amigos meus
que saíram com Marlene,
morreram cinco dias depois,
de profunda anemia,
com pele amarela e
sorriso nos lábios.

Por Jairo da Costa Pinto Filho - em memória..

Tuesday, November 13, 2007

Histórias bacana (i) s N. 2

Acabava uma aula de terça feira, na noite ansiosa de uma semana de inverno, louco para alguém comer. Sabia muito bem que o bar era um lugar adequado para o híbrido custo/benefício. Explico: é que nas redondezas do Centro da Cidade há um bar que negocia 3 ampolas de cerveja por míseros 5 mangos. Foi lá que avistou, como sempre, as carcaças friáveis e noctívagas de uma vida bandida universitária. Ali havia meninices das que mais apreciava, porém se surpreenderia com o que lhe reservava aquela inocente noite.

Apenas o primeiro gole pode significar investimentos altos em psicotropia, para muitos. A aula na terça à noite sempre o faz escolher entre dois caminhos: esbórnia ou casa. Neste dia, como informado, a esbórnia vencera, mas não sem restrições: se lembrou da necessidade primordial que era comer alguém. Por conta de sua fama e status locais, daquela ruela underground negou muitas vezes todos os produtos oferecidos. Sendo fácil descartar essas coisas, se concentrou na missão porque, rapidamente, acabara de eleger uma vítima.

Ao insinuante convite para o bacanal, há os que se assustam: também pudera! Havia ali uma aura de confusa excitação em meio a putas drogadas, carros oficiais da Polícia Militar assombrando, alunos bêbados e raras alunas belas. Aliás, beleza era a única coisa que faltava naquela noite. E não ligava para isso, estava isento de qualquer cobrança ou exigência: sua pilha era pilhar aquela menina do bacanal oferecendo o que ela mais queria, além de sexo: maconha.

Então nos retiramos daquela viela triste e feliz para, ratos, levarmos aquela moça para um sítio seguro. Havia dito que há semanas não "trocava o óleo", e também havia dito que estava sem dinheiro. É bom que ela lembrasse deste detalhe, pois se fosse para pagar, iria ao puteiro. Ora! Não! Não faz a cabeça mais uma "foda financeira"! Ainda que mentirosos, ela não interrompeu o processo que levaria ao bacanal! Ao informar que ali haveria tudo, menos maconha, meu amigo nos largou no quarto e começamos a foder.

Minutos depois, antes mesmo do ato, ele volta ao quarto e agora está configurado o bacanal. Lembro que bebia uma cerveja gelada deitado e, feliz, percebi que estava precisando mesmo daquela sacanagem! Ela entendeu e não fez por menos; meu amigo estava meio mal, mas eu não vacilei. Tasquei-lhe vara até gozar na sua caroça feia e determinar que obtivera sucesso em ter ido para o bar, ao invés de ter rumado o caminho da roça. Reagindo bem ao resmungo do meu amigo, que disse “que merda, só tenho comido mulher feia!”, a menina afinal solta a seguinte frase: “dizem que ‘uma mulher foder com dois homens é coisa de puta’, mas pessoalmente acho que é questão de sorte!”. Então tá!

Tuesday, October 09, 2007


Depois da primeira, não mais conseguira deixar de querer
Sabor inconfundível, muitos anos ausentes e agora atrasado no seu paladar
Teria que sentir outras tantas, outras mais, sem mais tempo a perder
Queria que não lhe faltasse, não lhe recusassem o que tanto ansiava segurar

Não, se haveria vencedor para a guerra não lhe importava
Se o comando do país estava perdido entre mandos e desmandos, pouco ligava
Nada a fazia refletir sobre o futuro das crianças naquele momento
Mas sim, uma única coisa que lhe ocupava todo o pensamento:

Quantas pirocas ainda haveria de provar?

Tuesday, October 02, 2007

Histórias bacana(i)s 1.2


Sempre há uma resposta: mesmo para as mais descabidas loucuras ou perguntas que façamos sem mesmo querer-lhas encontrar; não encontramos, mas há. No limite, por dúvida, as arranjamos. Pois pergunto-lhes, a fim de obter de vocês tão somente o silêncio; não me há escapatória: como poderia uma jovem mais moça, bem mais moça, nem tão conhecida assim, amiga das amigas, louca por tabela, dançante e dorminhoca, magrela, como pôde, pois, ela querer –lhes assim os dois ao mesmo tempo? Talvez nem tivesse pensado, fosse talvez O sonho. Um breve orgasmo e pesadelo. Dor e prazer, elas sabem bastante disso. Mas eles eram dois e maior, portanto, suas ignorâncias. De sorte que se me adianto muito, trato de pormenorizar.

Fora surpreendida pelo mais velho num ato rápido, é bem verdade, que tomou-lhe a sua boca na dele e sugou-lhe os lábios, e com pequenas mordiscadelas junto ao roçar da barba, causava nela certo imobilismo e arrepios. Aprumava – sedento - o mais novo, contornava-lha as curvas poucas e o mamilo duro buscava, com as pontas dos dedos. O arfar dele e a pressão de seu corpo, fazia aquecer a temperatura dos dois que agora trocavam leves arranhões e amassos de roupas, enquanto ele segurava-a com firmeza e suavidade ao tempo em que beijava, agredia, suavizava, tudo em seu pescoço,querendo o pertencimento. Embora tivesse sido surpreendida, ela estava ali a bebericar com eles há bastante tempo, em bares sujos, desses que cheiram a mijo, a ouvir-lhes as besteiras, a sorrir-lhes frouxamente como quem nada quer além do sexo. E eles a disputá-la, ora com galanteios e devaneios, ora com sarcasmo, parecia um repente, onde cada qual alternava sua vez e se, por um acaso, falhasse o tempo da rima o outro teria o benefício da intervenção. Mas foi muito o papo e pior, muito pior, o fato de terem saídos os três dali de mão dadas, a esmo, em direção ao nada, ou ao tudo, ou ao um , fundir-se- bela palavra que esconde e revela, de fato une. A moça no meio e em cada ponta um. Pois é bastante razoável que, se ela aceitasse qualquer beijo sob esta condição, era o sinal. Não? Há uma clara lacuna nesta concatenação de idéias assim narradas: como esses dois que a pouco disputavam - com o que há de mais sutil e sórdido, que é o que se faz em detrimento do outro- a menina magrela ,concordaram em agora compartilhá-la? Sem efeitos literários, pode-se dizer que esta concordância ocorreu no entreolhar dos dois. Não que fossem dois vividos e experimentados na arte de olhar e tudo entenderem, profunda imanência de suas almas, nem tampouco eram daqueles acostumados a fazerem aquilo entre si,nunca tinham experimentado, mas de fato bastou o olhar e tudo se refez. Tanto assim foi que não fica contraditório dizer que depois de beijá-la intensamente, o mais velho “ofereceu-a” ao mais novo, que soube também tomá-la e foram muitas as histórias e os detalhes que cabem num grande e belo conto erótico a se fazer a seis mãos. Enquanto não o temos, basta dizer-lhe que ela se esbaldou, mostrou desenvoltura, eles também não pareciam se incomodar com a presença de pólos negativos tão próximos a eles mesmos, o imã dela tudo atraía. E ela foi ali e alhures tão chupada, lambida, beijada, fudida, dedada, puxada, arranhada, mordida, suada, rolada, apertada, enfiada que, quando eles quiseram por fim consumar a fusão dos corpos penetrando-a os dois ao mesmo tempo, ela chorou. Chorou tanto e com tanta força que eles se lembravam no dia seguinte, principalmente o mais novo, sempre garoto, como há de se provar. Como pôde, pois, ela querer –lhes assim os dois ao mesmo tempo? Era a perguntas que ressoava na cabeça do mais novo e ia se tornado frase, ao passo da lembrança que ele mesmo teria dedado com dois dedos o seu cu, enquanto a fudia, portanto um pau ali não seria tanto incômodo, não é mesmo? Mas que fora no meio interrompida por ele: como ela pôde... foi o que chegou a dizer, pois percebeu que estes mesmos dedos eram os que agora lhe escovavam os dentes.

Histórias bacana(I)s – N. 1
Somente naquela hora havia percebido a vontade dela de se atracar comigo. Mantive a calma e a destreza usuais para, enquanto rapaz oportunista, chamá-la junto do jeito que o Diabo gosta! Porém não parecia me sair muito bem nesta estratégia, posto que já tardava e ao mesmo tempo amanhecia, a chance da noite em um bar da cidade. Éramos três: meu amigo, a mulher e eu; pretendíamos nos unir na missão de não deixar aquela noite passar em branco! Se nós propusemos algo a ela? Por certo que nada falamos, pelo menos nada falei até ver, a centímetros de distância, meu amigo chamando a nuca dela com as mãos e tudo mudando de figura.
Na hora H há os que nada fazem, seja por timidez ou por falta de confiança. Bem, o que sei é que nenhuma das duas coisas me faltava no momento em que, ao fim do trâmite da boca do meu amigo pela língua dela, não hesitei e a catei de maneira voraz. E caminhamos até um ponto do bairro onde normalmente, se tudo estivesse bem e calmo, estariam a trepar casais e afins numa hora dessas. Nada. Éramos apenas nós e a noite como testemunha de um ritual muito conhecido desde a Grécia: o bacanal. Abaixei e posicionei minha língua em seu clitóris; ela tomou de assalto o pau do meu amigo e, quando vi, ela engoliu o meu e o dele, até configurarmos uma cena de filme de sacanagem: ele por trás dela e ela beijando meu membro. Ali tudo era festa! Bem, tudo ia bem até o calor e a sonoridade da ação tornarem-se cada vez mais eloqüentes para, de súbito, cair acima de nós (à direita), a resistência da vizinhança em forma de líquido para quase nos dar, não um balde de água fria, mas um balde de mijo quente. Ufa! Realmente a vizinhança não costuma dar sopa (apenas de urina) nessas horas.
Fora o sinal de que estávamos com sorte. Saímos imediatamente procurar um sítio menos repressor para continuar nossa saga por sexo a três. De pronto, naquela pouco movimentada quase manhã, avisto dois amigos bebendo com três mulheres! Sim, é isso mesmo que você está pensando: estavam indo fazer um bacanal também! A coincidência dos mesmos objetivos de curto prazo dos amigos, somada aos 10 ou mais anos de amizade que cultivavam, tornaram muito engraçado este encontro. Lá vão eles para um motel nota 6,5 realizar suas traveçuras! E cá ficamos, meu amigo e eu, na espera de entrar no primeiro ônibus estrategicamente escolhido. A hora não convidava mais a tomar cerveja, eram mais de 7 e a mulher nos queria em intensidade muito semelhante.
E estávamos a dormir quando tocam a campainha do lotação: descemos e caminhamos como religiosos numa procissão em direção a casa vazia do meu amigo. Precisavam ver: estávamos como três turistas voltando da noitada como cúmplices de um estado de espírito libertino, mas também de pureza. Afinal, era merecida nossa dormida, convertida em ternura ao despertar, nos sentindo plenos e sem pudores. A cama não esperava por pessoas com sono, no entanto. Foram momentos de um prazer louco e somente possível pelo grau de intimidade entre os amigos; apenas propício pela aventura bacana, e muito conveniente pela demanda inconteste da mulher, pelo ato.O bacanal foi um alívio para nossos corpos, uma comédia para nossas almas e uma história canalha para se contar.
Sim, foi uma comédia daquelas!! Em determinado momento a mulher começa a chorar e a dizer, sem precedentes, que não queria mais! Não queria mais! Paramos para, de paus duros, nos percebemos numa situação engraçada, pois minutos antes estávamos incitando uma dupla penetração, o qual foi cabalmente repreendido pela mulher, bem como recusou uns tapas conferidos em suas bandas: ela sentiu a pressão!!! Mas ao vê-la ali, sincera e sacana, não pensei duas vezes e ejaculei considerável quantidade em sua barriga e nos seios. Logo depois apenas lembro da mulher apertando um, nós já mortos, e ela a dizer, em plena manhã: “Vou para faculdade assistir aula. Tchau gente!”.

Monday, September 24, 2007

Choveu.

Havia um calor estranho, um calor que fazia suar para além do quente que estava. Um calor úmido, irascível, transbordante, um calor de anos, molhado e quente, como vapor, como vagina, como o útero, como as profundezas. Ela apareceu, e isto aturdiu o vento que soprou forte. Veio para provar a carne, o pescoço, a batata, a virilha, seu arroz insosso e seu pau rotundo. Eles se beijavam e tal qual o calor, a umidade aumentava, por entranhas e pêlos, pela mente- mente?- pelos membros enrijecidos, pelo tremor da carne, pelo forno, pela pequenez do mundo e suas belas virtudes, pelas limitações das relações humanas e dos indivíduos, e eles agora fundiam-se, e mais que dois é o infinito, todos sabemos. Saciaram a fome e a sede, a alma e o gozo, e os corpos teimaram novamente: se separaram.

Choveu.

Tuesday, July 17, 2007

"Bilhetes" e "Requiem para um Hímem" são poemas de Jairo da Costa Pinto Filho.. Aguardem mais poesias deste falecido fanfarrão!

Wednesday, July 04, 2007

Réquiem para um hímem
para Dom Eugenio Sales e Lucia Esparadrapo
I- INTROITUS
Querida, querida
não fique arrependida.
É tudo tabu, tudo preconceito.
E, além do mais,
dá câncer.

II- KIRIE (morreu uma criança)
Salve!
Nasceu uma fêmea,
que vai sorrir para o mundo,
vai amar um, odiar outro.
Salve esta anca!
Salve esta potranca!

III- SEQUENTIA
A paixão armazenada na varanda,
os beijos mordidos,
o ventre ao contato íntimo,
os sonos irrequietos,
os sonhos molhados,
a expectativa da novela,
a mão que desliza,
o ritmo taquicárdio,
a masturbação,
o desejado orgasmo.

IV- OFERTORIUM
Esta singela pelinha
eu a ofereço
aos jesuítas, às franciscanas,
ao Imposto de Renda,
ao meu inesquecível pai e
à minha idolatrada mãezinha.

V- BENEDICTUS
Bendito seja este corpo virginal!
Bendita esta boca inocente,
cujos dentes
fazem cócegas
no meu pau.

VI- AGNUS HÍMEN
Que retira os pecados do mundo!
Que fortalece o espírito frágil e
resgata madrugadas insatisfeitas!

VII- HOSANA
Hosana nas alturas – do gozo!
Hosana nas loucuras – da cama!
Hosana, Hosana, Rosana!

VIII- GRANDE FINALE
Querida, querida
não fique arrependida.
Lembre-se que sou seu amigo,
que estou aqui para o que der (principalmente)
e vier.
Anote meu telefone.
Vamos todos em paz!
Bilhetes
(I)
Enjoei desta vida sem sentido.
Não me arrependo de nada.
Não chorem por mim.
Quero que
vocês se fodam!

(II)
Cansei das putarias desta vida.
A você, Cecília, deixo uma calcinha e
um O.B. usado da Marília;
para você, Rejane, um poster
in cunnilingus da Alice.
Para Marília,
mesmo que me ame, deixo
o DIU enferrujado da Rejane.
Para você, Alice,
não deixo porra nenhuma,
porque você é muito puta.
Adeus, suas vacas!
Transa
para a mulher de veludo
Por livros e poemas já não guardo o mesmo apreço.
Dúvidas quanto ao sistema não mais guiam meu destino.
Lágrimas acumuladas e tão travadas quanto o gesso,
não me causam tanto espanto quanto o ócio não criativo.

Guardas segredos em sete chaves caras... as lembranças!
Sentes a nuca, em nuances, nua como nunca... a carência!
Voltas ao passado recente e enfraquece... são as ânsias!
Esqueces que a doidera tem juros e preços altos... sua demência!

Então arde em suor safado quando grita ao mundo seu instante em segundos!!
Sofre aos beijinhos pois o próprio efeito carnal é por demais lindo!!
Por isso olha-me um sorriso sem jeito, tão bobo quanto astuto, e reconfigura
a alegoria do ato fato em um aparente descontinuum!!

Quanto aos livros relembro as tardes de domingo!
Quanto às dúvidas, não há sentido na política decadente!
Quanto às lágrimas, são fontes de energia positiva!
Quanto à você, espero que tenha gozado o suficiente!!

Friday, June 22, 2007

Núpcias
Deitou-se em minha cama e pediu-me um drinque.
Desabotoei minha camisa e lhe servi um Chivas;
após alguns goles me jogou no tapete e,
sem me deixar olhar, tirou a toalha.

O quarto pequeno, assim como seus seios,
esquentava cada vez mais.
Suas mãos suadas tocavam-me e
sentiam meu sexo já determinado.

Rigorosa e empolgada,
a doce criatura quer a vantagem,
e faz que me doutrina.
Seu alvorotar inquietante
trava meus ímpetos.
Ela me domina.

Durante a graça dos movimentos cabais,
portadores de força, selvageria e devassidão,
instaura-se o caos momentâneo no recinto.
Cavalga-me, e sinto sua vagina engolindo meu órgão,
mas, subitamente, pára e locomove-se:
seus dentes e seus lábios carnudos mordiscam meu sexo ereto.

E vai, sugando, se apoderando; meu instrumento
já é uma pré programada bomba, a expandir-se e
explodir o sítio já tão embriagado de torpor e tesão.
Ela que alimentar-se de sêmen
e, manualmente, me bolina.
Assim, no decorrer do ato, me olha repetidas vezes
ansiando pela jorrada explosiva,
até eu sentir a nulidade do meu ser já mergulhado em devaneio;
minha consciência dilui-se na volúpia, e então, freneticamente,
“a idéia de gozar já está gozando”.

Ela, ser dominante e atroz,
vibra ao beber meu fervente leite, deleite.
Baixando nossa euforia, a atmosfera noturna
descarrega o ambiente infernal:
estamos vertiginosamente relaxados.
E, já em paz, bebericamos o uísque etragamos o Marlboro
Repertório

Você me dispensou
porque não a acompanhava à praia,
e me enfiava num bar
para beber chope.

Você me renegou
porque não a levava ao teatro ou cinema,
e me metia num bar
para beber caipirinha.

Você me execrou
porque não lhe dava dinheiro para as compras,
e me exilava num bar
para beber conhaque.

Você me arrasou
porque não a amava todo dia,
e me esquecia num bar
para beber cointreau.

Você nunca reparou que
(para os fãs de Humphrey Bogart)
eu bebia desesperadamente
para suportar o medo de perdê-la;

ou
(para os fãs de Paulo César Peréio)
o meu grande mal
era misturar bebidas.

Por Jairo da Costa Pinto Filho - em memória...
“Retrucou o malandro que na verdade as pessoas são como peças e que, tal qual ocorre com as enzimas no organismo celular, existem formas específicas que possuem seus respectivos complementares. É o princípio das almas gêmeas, pensei, e cada vez mais usávamos clichês banais que nos revelavam agora grande veracidade, assustadora verdade tão ridicularizada pelos menos sensíveis. A questão não tem haver com sensibilidade, e sim com destino. O rapaz que um dia defendeu um projeto de lei que regularizasse a profissão de ‘comedor de mulheres’ para o bem estar geral das mulheres não comidas, e portanto, da humanidade em geral, esse cara aparentemente descrente nas emoções românticas, me leva através de clichês a acreditar na existência do amor. Segundo sua teoria, quanto mais as mulheres atingissem orgasmo, melhores seriam suas relações com o restante da sociedade, estimulando a saúde e o humor das encalhadas”.
(Trecho de “Poço sem água” em Contos Reunidos por Eduardo d’Avila – 2006).

Thursday, May 03, 2007

Vida atrevida

Estou num dilema. Tenho 25 anos, sou carioca morador da Tijuca, e quero dividir minha culpa com todos os cúmplices da agonia. Por uma mulher. Por duas. A insatisfação momentânea, que revela-se na contradição de amar e não mais amar ou no azar de amar duas mulheres ao mesmo tempo, acaba por unir em proporções variadas os mais diferentes tipos de, digamos, eternos amantes. Geralmente, estes seres românticos e pregadores da relação sincera e carinhosa, estes pobres enganados que esperam pela princesa infalível e reciclável, estes sonhadores, somos nós cancerianos. Alheios aos anseios populares pela divindade sexual, quando nos deparamos com Déboras ou Lúcias, simplesmente bloqueamos a ousadia carnal através de decretos-lei que exigem a “permanência da felicidade, a invariabilidade da paixão”. Nós, encaramos dilemas amorosos por sermos, ao mesmo tempo, ansiosos e incrivelmente melosos no amor; volúveis e totalmente apaixonados na relação; excêntricos e claramente submissos a mulheres extraordinárias.
Desordenadamente, com o passar dos meses, fui aprendendo a curtir e cultivar a vontade de ser um eterno amante. Assim, dividiria meu tempo entre doces mulheres sensíveis, e garotas quase-putas, freqüentes nos bares do meio universitário. Convivia comigo, nesta mesma época, Lúcia: a estagiária da sala ao lado da biblioteca da faculdade. Como eu fazia Relações Públicas, lia bastante acerca dos mais variados temas, como política, filosofia e teatro. Às sextas feiras, no entanto, passava por ela com olhares intencionados, cheios de tesão e euforia. Das primeiras vezes me ignorava, sem me deixar saber o que estava achando daquele chamativo cortejo. Enquanto não se fizesse pronunciar, não largaria mão daquele simbólico convite ao encontro boêmio dos alunos, no bar próximo ao espaço acadêmico. E, no esperado momento, Lúcia insinuou, quando já verídica a recíproca, que precisava comer antes de mais nada. “Essa bebe”, pensei rapidamente. Logicamente, convidei-a para almoçar e três horas depois, bebendo, eu já olhava para sua carne como quem não tem mãe; desalmado e brutal, senti a fonte do prazer embaixo dos meus olhos, e calmo, toquei violão ao espírito da bossa, de Cazuza, seduzindo-a sorrateiramente e, objetivo, já deixando a música de lado, beijando-a. Aos amigos do bar a inveja fez-se presente. Beijei-a e a descabelei a tarde inteira, e bebemos quase um engradado, conversando sobre a vida como personagens de um filme de Wood Allen.
No período seguinte, a semana de provas me afastaria de mais festas e contas no bar. Além disso, não via mais Lúcia em função do troca-troca de horários, de modo que escassearam nossos encontros pela faculdade. Terminadas as provas, como não voltar ao combate efetivo e objetivo? Então, como passe de mágica, me reaparece Débora.....
No 3o período, fiz um show com uma banda, no auditório da faculdade, pretendendo levantar o ânimo da galera contra os problemas de greve e desentendimentos políticos. Nesta apresentação tocamos rock e heavy metal, mas também músicas populares alegres. Como de costume, comentava sobre as greves quando, logo de trás, surge uma garota baixa e bonita querendo subir ao palco para falar. Eu, já um alcoolizado empolgado, desci na platéia e a trouxe junto aos meus braços para o palco. No meio do seu discurso, via seus seios pendentes sacudirem-se lentamente, suas mãos movimentarem-se junto ao falatório pertinente; e, com mais audácia, verifiquei a curvatura que ligava as costas a sua bunda empinada. Aquela mulher era um furacão para meus instintos, senti-me até confuso na hora em que falei com ela, ao término de seu discurso. Logo após o show, saí obstinado à caça da gostosa militante.
Agora, tenho pretensões de ser um eterno amante. Essa condição não pode de maneira alguma interferir em meus momentos de lazer egocêntricos e incompatíveis com um namoro propriamente dito. Não namoraria Lúcia nessas circunstâncias, momento em que comia Débora: a máxima potência feminina em forma de mulher independente; o pulmão de uma paixão sem precedentes que me fazia gastar R$ 80,00 por semana em motéis. Era como esquizofrenia, esforçava-me para atender às demandas de meus dois eus. Na biblioteca, após a sagrada leitura, fazia massagens em Lúcia, fazia com que se sentisse à vontade comigo, apesar do meu aparente descompromisso. Além disso, beijava sua nuca e dizia que não me sentia são, mas sim louco de desejo, sufocado pelo silêncio do recinto.
Nos fins de semana, o desdobramento era pior, avisava à cada uma o que não podia ser feito em tal dia e marcava algo possível para mim, mediante total controle da situação. Houve um Sábado, porém, em que Lúcia e eu transávamos no carro (eu estava duro) e, pela janela, vi Débora do outro lado da rua, mais à frente, aos amassos com um “coco-boy” típico da Barra da Tijuca. Nunca, em minha vida inteira de aventuras amorosas, havia acontecido algo parecido comigo. Eu me senti o homem mais azarado do mundo, por sentir vontade de fazer um escândalo dali a três metros, mas também com pura necessidade de sentir Lúcia em cima de mim, molhada e canalha, mudando de posição para melhor aproveitarmos o assento, gemendo e gozando em minhas camisinhas. Súbito, inseri-me exatamente na interseção das duas possibilidades: nem saí do carro, nem mantive ereção. Absolutamente indignado, apelei para o canastrão sofredor que chora aos braços da mulher, nesse caso a já saciada Lúcia. Em olhadelas rápidas, vi a mão do “coco-boy” na carnuda e empinada bunda de Débora, e então apressadamente minha respiração falhava e já chorava, compulsivamente. Lúcia vestia-se à fim de me levar para casa; sentia-me mal, achava que estava com febre, e até pedi que me conduzisse ao hospital. Mas, graças à sabedoria de Lúcia, acabei dormindo em casa, em meio ao seu cafuné e inspirado sexo oral. Mais uma vez pensava: “Lúcia eu não posso perder jamais”.
Ao próximo encontro com Débora, senti-me na obrigação de relevar o ocorrido do outro sábado. Eu me vi insensível e baixo perto da estonteante beleza e calorosa receptividade de Débora. Naquela semana, estava em cartaz uma peça teatral na universidade, meu convite foi aceito e, segurando sua mão, fui conduzido até o auditório por aquela mulher que, naquele instante, representava para mim nada mais nada menos do que um imprescindível recarregador de forças; um pulmão indispensável; todo o sentido de estar ainda vivendo contente e tranqüilo. Ao término da peça, almoçamos e emendamos num bar perto da faculdade. Lá, conversamos e, de repente, eu me deparo com a grande bomba: Débora se declara para mim, após ligeiros três chopes. Eu, sóbrio e taciturno, assisti a doce felina emocionar-se ao me dizer “Queria poder estar contigo nestes fins de semana incompletos, cheios de espaço”. Simplesmente pasmei, percebi a sua astúcia, clara estando sua citação as minhas jogadas do fim de semana, em prol da almejada dualidade: Lúcia e Débora, e vice-versa. Acabo de descobrir o quão nobre é o sentimento de Débora, que se permite entender minha extravagância amorosa. Ela é a sincera mostra do que se deve fazer quando a insatisfação aflora: se expor. Ela é a exposição. Eu, ainda chocado, pedi um uísque nacional e a conta. O papo incompleto desacelerou e então me retirei, prometendo refletir; de tanto que a amava naquele momento, sequer a toquei.
Acordo na terça, às treze horas, bêbado, e Lúcia me serve um café esplêndido. Não há como não se envolver profundamente com Lúcia; ela é praticamente completa, no que diz respeito à função da mulher para com o Homem. Sorri, enquanto dança; me beija, enquanto ri, enquanto chora e, durante a cópula, me consome e me usa como se eu fosse o último. Acorda de bom humor e sinto sua leveza. Como eu quero ser feliz ao seu lado! Não precisaria de nenhuma outra mulher, a não ser que não tivesse aparecido Débora, que me fez sentir sua ternura e sensibilidade envolvidas em um corpo esbelto e quente que, de tão quente, me faz esquecer da minha própria alma, de minha mãe, de Lúcia, do meu futuro. Me faz entrar em alfa não só pelo sexo, mas pela plenitude das atitudes, do beijo, do incessante carinho. O que há em nós que encerra-nos o sonho de sermos totalmente felizes?
Aos cúmplices ocasionais, devo meu apoio e apelo: estamos fodidos, porém ainda amados. Já que não podemos ser felizes com uma só mulher, nem com duas, de que nos serve a vida senão para sugar, sugar e sugar a própria? À heresia e ao pecado já nos acostumamos; a caça é um mero pretexto para o sucateamento das nossas constantes relações. Eu aprendi, após anos de dúvidas, que o mais sereno dos amores é o incondicional. Também percebi toda a história do amor e sua evolução, cresci ouvindo que o casamento não servia para nada, além de conceder-nos prosperidade. Também aprendi, já depois de moço, que a vida é a ausência da morte, e vice e versa; porquanto seremos apenas rebanhos, que acham que a vida terrestre é a melhor das estadias. A morte, penso eu, seria uma forma radical de cortar despesas.
Provoquei, então, a morte de Lúcia e Débora, porque não podia amá-las como mereciam. E foram-se rapidamente, sem dores, através do mais objetivo dos venenos: cianoreto. Sou o combalido da estória, mas amei, digo que amo e amarei minhas eternas amantes mais do que a mim mesmo. Prova disso há que ser ouvida ao primeiro estalo, quando, já apertado, o gatilho de meu revólver desencadear o processo de disparo da bala que encerrará a minha curta jornada na Terra. E, mais leve, encontrarei minhas divas, outrora inacessíveis, consolidando nosso amor para além deste plano, carnal e bruto; doentio e hipócrita. Nada mais impuro do que a dualidade, do que a dupla personalidade posta em prática, por devaneio engano. Pois, ao final dos fatos, lhes pergunto: não seria a liberdade a verdadeira essência do amor? Então, Lúcia e Débora, meus amores, sois livres!

Sunday, April 08, 2007

Não chove há meses e o ar, seco, deixa eu e minha garganta irritadíssimos. Me dizem que bebendo o máximo de água possível, litros e litros, a coisa pode amenizar, mas eu confio mais na cerveja que além de umedecer também embriaga. Santa cerveja. Foi o exemplo de minha mãe que me ensinou os passos iniciais e os amigos incentivaram e acompanham. Nem sempre a grana basta para o tanto de cerveja que meu cérebro agüenta antes de dar pane, mas ainda assim é melhor beber pouco e ficar de pilequinho a, simplesmente, abrir mão como muitos outros vivem a me buzinar. Que cada um cuide de suas hipocrisias e me deixem só. Com a cerveja. E foi com ela que encontrei Marília, a preta do morro da Mangueira.
Foi numa dessas noites de céu limpo com uma porrada de estrela lá em cima me bilando, sem qualquer nuvem e uma lua bem fininha, minguante, que resolvi descer para beber no boteco aqui de baixo. Havia esquecido, mas era dia do pagode. Pagode animado, negrada reunida em volta da mesa de ferro enferrujado e umas mulatas gostosas e rebolativas ao redor. Cena pra gringo se extasiar. Finjo não ver o furdunço e entro no fedorento bar do seu Agostinho que, contrariando a regra, não era português, mas espanhol. Um filha da puta murrinha com uma perna de carne e osso e outra de madeira. Ficava prostrado no bancão e raramente saia dali. Devia ter um balde pra mijar e cagar porque foram raras as vezes que o vi movimentando-se pelo apertado espaço que lhe sobrava entre freezeres e o balcão. A seu favor contavam a cerveja sempre gelada e a localização. Sem muito papo e frases diretas eu peguei minha cerva e sai de perto do seu bafo fedorento. Não havia mais mesas ou cadeiras disponíveis para um simples matutar de idéias como sempre fazia naquela espelunca que em dias de pagode, se estendia pela calçada e rua, tendo, os carros, de buzinarem para não morrer alguém. Muitos passavam devagar para ver aqueles lindos rabos pretos rebolando que eu fingia ignorar, mas que os já tinha memorizado e selecionado os melhores para apreciar. Uma saia rosa, bem curta, daquelas que quase mostram o cu quando balançam tinha duas perninhas finas e brilhantes, porém bem torneadas, por baixo mais uma barriguinha curta e reta e seios pequenos, porém bicudos acima. O rosto dispensa comentários e apreciações, mas sorria. Do seu lado, no extremo oposto, uma cavala. Daquelas que derruba um cara na cama e deixa prostrado por dias e dias sem querer saber de mais nada senão aquela boceta enorme. Se não a tem, bate várias por dias e dias pela recordação. Também de saia, porém preta como a pele, mas sem o brilho do par de coxas que era quase meu tronco e uma barriga seca. Vejam bem, não tinha nada de gorda, mas apenas aquele biotipo cavalona que deixa os gringos em estado de graça "brazilian woman is wonderful" iriam repetir para seus conterrâneos, isso se não a levasse para deixá-los, todos, babando e pedindo para comê-la querendo saber o preço. Algumas sambavam de calça e eu não entendia porque de tanto pudor. Havia também vestidos e shortinhos em volta da mesa mas de cavala, cavala mesmo, só a saia preta. Porém eram belas, sorrisos lindos com o brancão de dentes bem cuidados no contraste dos rostos negros. "Tudo puta", pensei. Casais, não havia muitos e os poucos estavam em volta, com sorrisos abertos e peles em outros tons. Muitos me pareciam apenas babacas que nada sabiam de samba ou pagode e ali pararam para apreciar os pretos excitados sentando porrada nos tantãs, pandeiros e demais instrumentos que desconheço o nome.
Lá do outro lado, no fundo, um pouco mais discreta e de sorriso contido, uma linda preta sambava de maneira a chamar pouca atenção. Era uma das que vestiam calça, porém se via pela silhueta suas deliciosas curvas. Eu estava de longe, sentado numa dessas merdas que nego coloca na calçada para evitar que ali estacionem. Talvez obra do espanhol desgraçado.
A jovem galega, filha do coxo, servia os pretos com tira-gostos da pior qualidade aliviados pela cerveja de garrafa esbranquiçada. Via pelo seu sorriso e rubor que deveria estar totalmente excitada imaginando os tamanhos daquelas picas sonoras. Talvez quisesse o cantor, esguio, com roupa aparentando ter vindo direto da loja de algum shopping e cordões de ouro falso que rasgava com o cavaquinho e não tirava o sorriso para cantar, mas talvez quisesse a mão grande e forte do negão no tantã que eu esperava arrombar o couro a qualquer momento e ela deveria fantasiar estar no lugar daquele couro. Tinha cara de pudica, mas não enganava. São essas que querem uma porrada na cara, uma pirocada com força e até mesmo umas surras para ficar marcada, mas somente onde pudesse esconder do velho galego. Não me enganava. Mas pelo olhar que flagrei, aquele olhar panorâmico, eu presumi que seu sonho eram todos os pretos ali reunidos, um carrossel de piroca preta ao serviço daquela branquinha singela e esguia ou ela a serviço de tanta rola escura. Dei minha golada e sorri visualizando a cena e a cara do espanhol se flagrasse. Filho da puta. Dei mais um gole para encerrar o copo e o enchi novamente. A cerveja perdia sua capinha branca, mas ainda mantinha o seu poder gelado.
Desviei um pouco meus olhos e fiquei observando a rua. Os carros e pessoas que passavam e me observavam junto e longe daquela algazarra, mas não me detive muito tempo. Senti uma vontade de observar outra vez a pretinha discreta lá no outro canto e a busquei novamente, mas ela sumira. A cerveja acabou antes que ela voltasse com uma cara de sonsa querendo fingir que nada acontecera. Levantei para buscar cerveja quando um preto, magro, que aparentava não ter mais que 20 e poucos anos vem da mesma direção que ela com a cara de quem comeu e gostou, daqueles que adoraria correr para os amigos e dizer o feito. Era claro demais para deduzir o que houvera, mas deixei estar. Já fantasiara demais com a galeguinha e aquela pretinha não me parecia ser do tipo. Peguei outra cerveja com o canalha e voltei ao meu posto. A pretinha sambava, dessa vez com mais desenvoltura. Vi o rapaz cochichando no ouvido de um amigo, do outro lado da roda, que a olhava e ria. Porra, não havia discrição nos atos e agora sim, me excitei de verdade.
Bebia e a deseja imaginando o que havia feito na rua do lado quando a vejo se encaminhar para o banheiro fedorento do bar. Vou atrás me esgueirando entre corpos rebolativos e suados. O banheiro fica lá atrás, entrando por um corredor de caixas de cervejas empilhadas, quase como num calabouço maldito. Ficava vazio de homens que preferiam urinar pela rua a ter que andar até lá e poucas eram as mulheres que mijavam ali, tamanho era o fedor. Quando cheguei a preta já tava dentro e eu fingi mijar. De dentro do meu fedor eu deixei minhas orelhas atentas para o movimento da porta e quando a ouvi, sai junto fingindo coincidência. Ela me olhou e sem pensar ou pestanejar, perguntei "foi bom chupar o pau dele?". Ela arregalou os olhos e nada disse, visivelmente surpreendida pela pergunta. Eu não vi, mas acertei em cheio. Não, ela não fudeu com ele na rua usando aquela calça jeans, mas um boquete bem dado era totalmente possível e sorri por dentro com a frase certeira. Ela tentou alguma reação, mas logo percebeu que o que me movera até ali fora um tesão arrebatador. Voltamos para a rua com uma tensão entre nós e ela aparentando estar puta com meu jeito.
Retornei ao meu posto e não tirei mais os olhos dela.
Ela percebia, estava de frente para mim, mas fingia me ignorar sambando com mais vontade e agora sendo tão rebolativa quanto as pretas que pareciam não cansar.
Ficamos nessa por muitos minutos e percebi que o pretinho chupado tinha se ligado. Olhava pra mim, meio que querendo intimidar, e eu só o reparava pelo movimento e um rápido olhar quando percebia que ele virava a cabeça para notar se ela me correspondia. Queria que ele sentisse que naquele pequeno jogo ele era carta fora.
O pagode durou mais um bom tempo entre intervalos e seqüências animadíssimas. O público aumentou para alegria do puto atrás do balcão, mas quando começou a diminuir, me liguei que era hora. Vi o pretinho sair para mijar do outro lado da rua e senti que era o momento. Voltei ao balcão, entreguei o casco e meu copo junto com o pagamento das cinco cervejas. Fiz questão de passar por trás dela e apenas susurrei "vem". Não esperei resposta, não olhei para trás e simplesmente andei na direção oposta a que vira ela saindo com o mijão lá do outro lado. Virei na rua e esperei na porta de serviço do prédio. Ela demorou um pouco e eu achara que a tática falhara quando vi sua sombra se aproximando da esquina. Abri a porta e a esperei. Não falamos nada, apenas pelo olhar. No elevador eu metia a mão por dentro de suas calças e ela se contorcia como uma cobra enquanto nos beijávamos quase que arrancando língua, dentes, esôfago, estômagos um do outro.
Já dentro da cozinha o tesão pode sair pela dureza do meu pau que ela agarrava e não acreditava. "Nunca vi um pau branco desse tamanho" e eu nada falei, apenas empurrando sua cabeça pra baixo. Sim, agora estava clara a alegria do pretinho e mais ainda o porque de compartilhar com o amigo que ria também querendo aquela boca de língua e lábios absurdamente doces. Ela sabia muito bem o que estava fazendo com aquele pau na boca e sem qualquer aviso esporrei direto na sua garganta. Ela esgasgou-se, tossiu, cuspiu o que ficou na boca e esboçou uma reclamação quando lhe meti a mão na cara e voltei a lhe preencher a língua. Ela chupou e deixou limpo. Dali a arrastei pro quarto, pro colchão onde poderíamos fuder sem dores, sem complicações. Não estava mais em idade de ficar todo dolorido e fudido por causa de uma foda.
Aqui eu deixo que vocês imaginem o terror que fizemos, a pele preta e a pele branca dentro do quarto, assim como fiz com a galeguinha e seu exército de negos.
O dia raiava e a gente não conseguia parar. A cozinha era longe demais e a pequena garrafinha d'água que mantinha para minhas noite de ressaca não dera conta nem da primeira hora.
Fudiamos e fudiamos e ela só descansava nos momentos que meu pau não aguentava mais e demorava a subir. Eu ficava olhando para o teto e para meu pau, já praticamente em carne viva. Quando o tesão voltava e sentia uma mínima ereção eu atolava dentro dela outra vez para acordá-la junto com meu pau.
A noite voltava e eu não conseguia parar. Ela se mexia pouco. Meu pau sangrava. Algumas eu a fodi dormindo enquanto ela gemia baixinho, de olhos bem fechados. Na madrugada seguinte foi que consegui sair da cama e bambeando, sentindo-me extremamente fraco, segui para a cozinha. O primeiro copo da cerveja velha e choca caiu no estômago vazio como uma bomba e eu cai pelo chão gelado com meu corpo nu. Fiquei um bom tempo ali amaldiçoando todos os deuses e rogando a Deus que levasse aquela dor para a casa do caralho que parecia ser a última de minha vida. Quando consegui me por de pé outra vez disquei um número que tava na geladeira, e pedi uma pizza. Pela primeira vez desde que desci ao galego, sentia que precisava comer algo. Para o estômago. A atendente, com voz lenta, aparentando sono, informou que o expediente havia fechado e todos os entregadores haviam ido para casa. Prometi pagar o dobro, o triplo se ela viesse e expliquei que não comia há três dias devido a uma doença que só naquela hora me permitira sair da cama. Acho que ela se comoveu, anotou meu pedido e veio. A pizzaria era do outro lado da rua.
A atendi nu e com sangue no pau. Ela ficou boquiaberta com a cena e eu joguei o preço normal da pizza sobre seus seios e bati a porta em sua cara sem lhe dar tempo. Devorei cada pedaço sem mastigar. Me sentindo levemente mais forte fui ao banheiro e sem querer olhar para o estrago ali embaixo, deslizei os dedos com uma pomada cicatrizante e mordendo a toalha para não gritar. Voltei pro quarto e deitei ao lado da preta que estava na mesma posição, esgotada.

Impossível dizer quantas horas dormi, mas foi o tempo de acordar e constatar pelo gelo e falta de cor em sua pele que estava morta. Marília, a preta da Mangueira, não agüentara a maratona. Dei-lhe um beijo e voltei a dormir. No outro dia decidiria o que fazer.