- porque dessa fruta eu chupo até o caroço! -

Thursday, August 21, 2008

Lindezas sutis

para Sabrina Sato


E diante de tanta incerteza posicionou a bunda na janela de forma a explicitar seu alvoroço fisiológico. Aos transeuntes, um prêmio pela existência daquela mulher. Sabrina era seu nome. Alta, magra, olhos esbugalhados, engraçada, safada, perspicaz e muita das vezes simpática. O que nos uniu foi uma mistura de sinceridade canalha e carência espiritual. Em suma, fomos amantes durante seis meses.


O outro lado da carência pode até existir, mas este vai e vem é o movimento cíclico do qual especialistas em saúde mental adoram falar. Na verdade, nosso ego é um misto de consciente apreensão com inconsciente compensação. O valor da afetividade ministra as doses de paixão de cada um e isto inclui os “dates” ou encontros de casais que estão procurando estabilidade.


O ponto central aqui é falar de uma amizade colorida que envolve magia e instabilidade, numa figuração emocional e sensorial experimentadas sem expectativa. Se anseios conscientes circundam nossos sentidos, é preciso contrabalançar com a limitação das expectativas, frente a experiências que geram prazer carnal e espiritual. Sabrina e eu fomos parceiros desta vivência sacana e auto ajudada que é interesseira do ponto de vista individual, egoísta até (quem não é?) e divina e pura como um altruísta verdadeiro, do ponto de vista coletivo.


Somos seres coletivos e individuais, ao mesmo tempo; é um paradoxo que as Humanas tentam resolver incessantemente. Os antropólogos e suas lentes de aumento e redução de perspectivas; afastamento e aproximação ou o pêndulo do conhecimento; a Sociologia das estruturas sempre foi reificadora; difícil. Economia existe porque supostamente nossas demandas de consumo são infinitas, e por isso precisamos economizar.


O anterior parágrafo é um breve pensamento sobre a complexidade do ser social, sem enfatizar as representações que estes seres desempenham na sociedade; ser social que é, ao mesmo tempo, todo mundo e apenas um; complexo. Sabrina e eu nos fundíamos na terça e nos separávamos na quarta; repetíamos a dose com posições diferentes no final de semana até que, por motivos estritamente canalhas, nos afastaríamos para, algumas semanas depois, rirmos do porre tomado no início das sacanagens, como crianças ou idosos celebrando a vida.


O envolvente carinho celebrado nos fins de semana espelha mais que nova perspectiva, e anuncia a abertura de novos tempos. E é deste acontecimento que extraímos inspiração para sorrir diante da existência. É este conceito de “diversão” que antecede o acontecimento para, intensamente, irromper em forma de inspiração para toda e qualquer leveza. Essa é uma das grandes dádivas da existência, pois não é só um fardo, como costumam enfatizar os filósofos. É uma idéia de imensidão e possibilidades, sempre manejando opostos que, para ser melhor, merece que seja plural, e não uma singular dialética. O bom e ruim e o quente e o frio são ricos em intermediários estados de “vir a ser” que não podemos qualificar, a não ser em momentos como os de envolvente carinho.


Sabrina sabia dos estágios entre o quente e o frio, e não apenas conhecia como brincava com suas possibilidades. E desta vez não estava me desconcertando! Normalmente, sua atenta mente canalha gostava de atentar meu juízo frágil, como da vez em que estava apertada para urinar, e me fez segurar sua fenda até chegar em casa, ignorando o fato de que eu estava ao volante, em plena Radial Oeste, uma via expressa da Zona Norte do Rio.


O devir é uma coisa que dá significado à ação; o que os antropólogos chamam de “convenções de símbolos”, e cuja função é permeada por anseios de ser entendido ou não, na ardilosa tarefa de se comunicar. Enfim, por ela e com ela, devo dizer: sua beleza espiritual compensara suas safadezas, e é por isso que o que vivemos foi tão intenso quanto didático, para as almas leitoras deste sítio, desejosas de inspiração.