- porque dessa fruta eu chupo até o caroço! -

Monday, January 21, 2008

Aventuras de um professor

1-A eterna contenda dos laços afetivos contra os interesses individuais

Trata-se de um lugar feliz para refletir os seus métodos de ensino; ali, o professor não apenas distinguira ficção de realidade, mas também desobstruiu suas veias entupidas. Pôs-se a praticar a terapia diária de dar algumas aulas para adolescentes, em maioria, mas também para os jovens de 11 anos de idade. Eram tempos de muita confusão no ar, eram tempos de muita intolerância estampada nos semblantes publicitários, eram tempos de mesmas músicas diárias nas rádios, de sítios viróticos na rede, muitos outdoors nas ruas e novos big brothers bitolantes.

Caminhamos em direção ao sinal para atravessarmos na transversal mais próxima do caminho de onde saem umas barcas. Percebemos que, após uma aula inaugural em uma manhã de verão, todos estão submetidos a uma paixão coletiva e, em parte, alienante. Dizia ao aluno da turma dos mais adultos que, sobre as doenças sexualmente transmissíveis, o Carnaval era um grande “poleiro de infecções”, e o aluno respondera, sem enganos: é também um momento bom para arrumar namorada. O professor, diante de uma demonstração de romantismo, teve seu dia transformado.

E passeava pela Av. Rio Negro quando ouvia conversas alheias, fragmentos de diálogos de pessoas sem rosto, porque andava olhando o chão, que nem um cavalo. Por volta das seis e meia da tarde achava divertido estar junto da multidão, que não era das maiores. Pois sabia que um dia de trabalho era cansativo e desgastante e que, ouvindo conversas públicas, saboreiava a possibilidade de ensinamento sem pretensões com a “verdade da ciência”, ou pelo interesse material que rege a vida do trabalho: era o momento da linguagem livre, fluída e espontânea como a de um flerte pela Baía da Sarambaia.

Por importância geográfica há que se dizer das vindas ao Grande Rio: eram pratos cheios de emoção e comoção. Afinal, das alunas não cortejava ninguém, a não ser as ex-alunas das vezes que encontrava perto do trabalho. Cultivara uma ética de poucos: jamais comeu uma aluna. Fazia mais por carência de meios eficazes de conciliar seus interesses individuais, com os laços profissionais ou afetivos, neste caso ambos, que precisava para continuar trabalhando.

As barcas levam nosso amigo para um ponto distante daquela barulheira citadina, mas levava-o em direção a outra. Então aquele hiato sonoro reverberava na sua condição de ex-casado de uma forma positiva. De maneira que, silencioso, caminhava em direção ao fundo da barca quando avista uma jovem de seus vinte e poucos anos, linda, lendo com cara de saciada em leitura e sexo, um livro de um autor de quem é um grande fã. Era um movimento instigante o de flertar naquela balsa, mas sabia de suas próprias dificuldades quanto a este movimento. Só que sabemos: nas melhores ocasiões para exercitar isto, o movimento surge por parte de quem supostamente seria alvo dos olhares.

E desta maneira, tranqüilo e sereno, esperando o “sinal” dela, recordara a parte de sua recente aula de Química, quando explicara a uma grupo de meninas o que era feromônio. É preciso enfatizar que havia confiança e respeito mútuos entre mestre e alunas para que este assunto viesse à tona. Dizia que os feromônios são substâncias químicas que, captadas por animais de uma mesma espécie (intra-específica), permitem o reconhecimento mútuo e sexual dos indivíduos. Os feromônios excretados são capazes de suscitar reações específicas de tipo fisiológico e/ou comportamental em outros membros que estejam num determinado raio do espaço físico ocupado pelo excretor. Existem vários tipos de feromônio, como os feromônios sexuais, de agregação, de alarme, entre outros. A palavra feromônio foi cunhada pelos cientistas Peter Karlson e Adolf Butenandt por volta de 1959, a partir do grego antigo ϕέρω (féro) "transportar" e ρμν (órmon), particípio presente de ρμάω (órmao) "excitar". Portanto, o termo já indica que se trata de substâncias que provocam excitação ou estímulo.

Ao recobrar a atenção para a morena dos olhos grandes claros que estava sentada perto dele, sentiu o bem estar necessário para exercitar a leveza convidativa; se lançando nesta aventura. Perguntou a ela se conhecia o primeiro livro escrito pelo mesmo autor que lia agora, e ela disse, curiosa, que não, e ainda sorriu. O movimento inicial foi de um brilhantismo muito comum deste estado de espírito. Fora, pois, um promissor começo para uma primeira impressão grandiosa. Afirmou possuir a tal obra: “O enterro do Diabo” era o nome; somente neste instante é possível definir as alternativas, pois é aqui que se percebe uma química da qual dependem as espécies humanas e não humanas para “transportar” e “excitar”, segundo a etimologia suscitada pelos termos gregos.

Ocorreu que, oito minutos depois, estavam caminhando pela mesma rua quando subitamente uma chuva tenta interromper o percurso dos dois. Ela estava vestindo uma bermuda jeans e uma camisa de malha, curta e apertada aos seios protuberantes; suas pernas eram lindas assim como seu rosto, o cabelo esvoaçava e o vento deixava-o sem um formato padrão, mas naquele conjunto se transformava. Nem precisamos comentar o fato de que ela já queria, no mínimo, sentar para tomar um café, beliscando umas torradas com manteiga.

Foi neste ínterim passado da barca a uma confeitaria que, ao som de Milton Nascimento, perceberam a grandeza de uma supostamente burocrática segunda feira chuvosa de verão, no fim do dia. Satisfez sua curiosidade até quando achou necessário; elogiou até quando achou conveniente; elegeu suas melhores piadas e escolheu a linha de raciocínio mais cabível para deslocar esse café prum samba. No que acerta aqui, erra acolá, no que se age por instinto, se fala por interesses fora de hora; no que flerta se desconcerta; e a conta traz até um leve constrangimento.

E então é retomada a primeira temática, a dos livros. Combinam enfim um chopp gelado no dia seguinte para, andando de encontro a uma rua estratégica, abraçá-la deixando que ela quisesse sentir sua barba a roçar-lhe a face fina e cheirosa; sorriram e, sábios, despediram-se sem qualquer afago ansioso, pois sabiam que no dia seguinte haveriam de desfrutar deste encantador encontro. Quando os laços afetivos se aliam aos interesses individuais, as pessoas abrem mão de desejos imediatos carentes de um contexto propício e agem mais sabiamente; mas negar que sofremos influências do ego é mentira. As ações impostas pela razão precisam ser contrabalanceadas pelas ações impostas pela emoção.

Eram tempos de muita confusão no ar, eram tempos de muita intolerância estampada nos semblantes publicitários, eram tempos de mesmas músicas diárias nas rádios, de sítios viróticos na rede, muitos outdoors nas ruas e novos big brothers bitolantes. Mas o nome dela é Michele...


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